RIO GRANDE DO SUL. “Não tem como [o mundo] esquecer”. É o que acredita a dona de casa Silvone Bressolin Pinheiro, de 35 anos, sobre a tragédia que devastou o Rio Grande do Sul. Ela teve a casa em que morava com o marido e os dois filhos derrubada pela enchente no bairro Moinhos, em Estrela. A cidade fica no Vale do Taquari, a cerca de 100 km de Porto Alegre, e foi uma das mais afetadas pelos fortes temporais que desde o fim de abril assolam o Estado.

Apesar da expectativa de Silvone, predomina sobre os gaúchos o receio de serem esquecidos pelo mundo enquanto ainda precisam de apoio a longo prazo para a reconstrução. Há gerações atuais no Estado que sequer acreditam que verão tudo como era antes, em um sinal de que a vida não deve retornar com rapidez.

Logo no início de maio, quando milhões de pessoas foram afetadas (e milhares ficaram desalojadas e desabrigadas), uma mobilização de todo o país e a nível internacional garantiu que a população do Estado tivesse um acolhimento imediato. Milhões de reais foram enviados por centenas de campanhas de arrecadação. Assim, toneladas de doações como água, comida, roupas e outros mantimentos básicos foram enviados.

Esse recomeço, porém, exige todo o esforço e pelo máximo de tempo possível, começando pela necessidade de reconstruir, em muitos casos, tijolo por tijolo das casas. Recursos e doações ainda precisarão ser entregues por uma sociedade que tem, às vezes, mania de esquecimento.

Além do receio de serem deixados de lado por toda uma população que se mobilizou, há o temor sobre quando chegará a ajuda do poder público, e se chegará para todos que precisam. O drama é vivenciado especialmente por quem mora em regiões de interior e diz enfrentar mais obstáculos para ter o a qualquer tipo de auxílio.

A professora do ensino infantil Mari de Freitas, de 50 anos, que perdeu tudo o que tinha em sua casa no bairro Mathias Velho, em Canoas, assume que “esse futuro incerto é muito angustiante”.

“A gente recebeu muita ajuda de voluntários, mas logo as pessoas vão retomar suas vidas. E acho que essa ajuda do governo vai demorar. Espero que venha logo porque vamos começar do zero, bem lentamente. Tem pessoas que não têm alternativa nenhuma, não têm parentes e nem com quem contar".

O governo do Rio Grande do Sul, que disponibilizou logo no início da tragédia um pix do Estado para doações, começou a rear na última sexta-feira (17) os valores recebidos. O auxílio de R$ 2.000  foi enviado primeiro para 428 famílias do Vale do Taquari, sendo 329 em Arroio do Meio e 99 em Encantado.

O plano estadual é que um total de 25,5 mil famílias sejam beneficiadas com os recursos do pix, em um cronograma que ainda será divulgado. Os critérios para o recebimento do auxílio incluem estar no CadÚnico e ter renda familiar de até três salários mínimos, ou R$ 4.236 atualmente.  

o governo federal anunciou um auxílio reconstrução de R$ 5,1 mil, em parcela única, para famílias afetadas. A estimativa é de que cerca de 240 mil famílias sejam beneficiadas. Haverá também uma estratégia na tentativa de agilizar a aquisição de novas casas. Essas políticas, porém, têm criado filas quilométricas em locais de cadastro assistencial pelas cidades do Rio Grande do Sul.

“A gente é pobre. Eu acho que não sobra muito pra quem precisa. A gente não pode nem falar esse tipo de coisa, mas pra a gente que precisa, não vem nada. Não vem nada. Já sofri outras enchentes aqui e não peguei um centavo do Estado, e do município menos ainda. Não chega aqui”, acusa o aposentado, Vilmo Stach, de 81 anos, também morador de Estrela, que teve sua casa varrida pelas águas do rio Taquari.