Um dos principais temas que guiam os debates sobre gestões no futebol brasileiro é o aumento da criação de clubes sob o modelo de Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Atualmente, a Série A do Brasileirão conta com sete times controlados neste padrão e já são três anos desde as primeiras equipes que aram pela transformação na gestão, o que permite iniciar algumas análises para entender o comportamento desse cenário. É o que faz o Relatório Convocados, da Galapagos Capital, que aborda em parte de sua pesquisa o balanço de receitas e dívidas na comparação entre clubes SAFs e clubes associação.
Por mais que estatisticamente já seja possível compreender como o mercado das SAFs tem iniciado sua trajetória no Brasil, o relatório destaca que o estágio ainda é inicial e que não possível tirar conclusões concretas dessas análises. Os clubes levados em consideração são os que disputaram a Série A de 2023 e 2024. O Lance! Biz traz as principais informações compartilhadas no documento.
O documento analisa no período dos dois últimos anos o comportamento financeiro dos clubes que funcionam com associações, que ainda são maioria na elite do futebol nacional e geram mais receita. Considerando 2023 e 2024, essas equipes geraram R$ 14,071 bilhões em receita, com uma média de R$ 604 milhões a cada equipe no ano ado. A diferença da soma do faturamento das SAFs chega a R$ 8,65 bilhões.
Nos dois anos analisados, as receitas das SAFs brasileiras soma R$ 5,41 bilhões, com um crescimento mais tímido em comparação aos clubes de associação entre um ano e outro, que foi de "apenas" R$ 492 milhões somando os sete representantes do modelo. O relatório da Galapagos destaca que considerou como SAF todas as estruturas corporativas, e excluindo as que são detidas integralmente por associações, como o América-MG e o Fortaleza.
Ou seja, nesse recorte, ainda é possível afirmar que os clubes associativos obtém mais faturamento que aqueles que são controlados por SAFs. O "ainda" é utilizado porque o ritmo de crescimento do modelo de clube-empresa tem sido maior que os demais. O documento mostra que as receitas de SAF avançaram 20% de um ano para o outro, contra 6% das associações. A pesquisa destaca o comportamento como "normal", já que as equipes que assumem a gestão de sociedade anônima estão ando por um processo de reorganização e têm impactos positivos no curto prazo.
Dos times que permaneceram na Série A de um ano para o outro, as SAFs tem os quatro maiores crescimentos de receita, puxados pelo Bahia, que bateu recorde arrecadação no ano ado, ao lado de Cuiabá, Botafogo, e Cruzeiro. Do quarteto, o tricolor baiano o clube carioca obtiveram resultados expressivos em campo - cada um com a proporção esportiva da temporada.
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Dívidas das SAFs x associações
O cenário de reorganização dos clubes que viram SAFs citado na pesquisa da Galapagos ajuda a explicar uma série de estatísticas levantadas sobre o comportamento financeiros dos clubes. E apesar de num primeiro olhar parecerem conflitantes, os números estão dentro do esperado das análises e condizem com o movimento que as gestões das sociedades anônimas aplicam. Por exemplo, os clubes SAFs ainda acumulam mais dívidas que as associações, por mais que tenham aumentado as receitas.
Clubes como Cruzeiro, Botafogo e Vasco, as primeiras SAFs do futebol brasileiro, surgiram num contexto onde as equipes riscos reais de insolvência por conta das altas dívidas e que foram assumidas pelos novos donos (no caso do Vasco, hoje não tem uma SAF definida após a saída da 777 Partners). Se a curto prazo os clubes tendem a entrar num viés de crescimento - como foi citado no cenário das receitas - os proprietários tentam equilibrar as contas em busca de zerar as dívidas assumidas. Em sua maioria, dívidas robustas.
A dívida média das sociedades anônimas, hoje, giram em torno de R$ 719 milhões, contra R$ 672 milhões das associações. Entretanto, de 2023 para 2024, os clubes-empresa aumentaram o déficit em 10%, contra o dobro do acumulado das gestões associativas. A maior redução de uma dívida veio de uma SAF, com uma diminuição de R$ 91 milhões entre um ano e o outro - o clube, porém, não divulgado pelo relatório.
A dívida líquida ainda é, em maior parte, das associações. Clubes como o Corinthians, que opera com déficit de mais de R$ 2 bilhões, são peças importantes que elevam essas cifras. Além do fato do Brasileirão ser composto por mais clubes associativos do que SAFs.
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Investimento nos elencos
Como foi citado, o resultado a curto prazo das SAFs a por um cenário que é encarado de forma positiva pelos torcedores. Modernização da gestão, reestruturação istrativa e, claro, um investimento pesado em campo para obter um retorno esportivo. A média dos gastos na formação do elenco das SAFs foi maior em 2024 do que as associações, repetindo a realidade vista em 2023. No ano ado, a média de gasto das sociedades anônimas em atletas foi de R$ 192 milhões, contra R$ 159 milhões dos associativos.
Apesar de ser uma vantagem curta, é um sinal de como os clubes desse modelo se comportam. Bahia, Botafogo e Cruzeiro se destacam como equipes que abriram o bolso nas últimas temporadas para transformarem seus elencos e arem a disputar um nível de futebol acima da média. Do outro lado, Flamengo e Palmeiras são exemplos de associações que elevam as cifras dos clubes associativos, já que são equipes com receitas bilionárias e com elencos robustos no futebol brasileiro.