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Gaúcho: o atacante ex-Flamengo e Palmeiras que foi herói como goleiro e lutou pela vida no Paraguai
Ídolo de duas torcidas protagonizou momentos importantes na carreira
O Allianz Parque será palco, neste domingo (25), às 16h, do confronto entre Palmeiras e Flamengo, em partida válida pelo Campeonato Brasileiro. Clubes de grande tradição no futebol nacional, ambos fazem parte da história de Luís Carlos Tóffoli, o Gaúcho — ex-atacante que conquistou títulos, foi “goleiro por um dia”, virou treinador e morreu em 2016, vítima de um câncer de próstata.
Nascido em Canoas, no Rio Grande do Sul, Gaúcho faleceu aos 52 anos. Além de defender Palmeiras e Flamengo, acumulou agens por XV de Piracicaba, Grêmio, Verdy Kawasaki (Japão), Santo André, Lecce (Itália), Boca Juniors (Argentina), Atlético-MG, Ponte Preta, Fluminense e encerrou a carreira no Anápolis, em 1996.
Após pendurar as chuteiras, se aventurou como treinador, comandando Mixto e Luverdense entre 2010 e 2011. Antes disso, também foi fundador do Cuiabá, clube que chegou recentemente à Série A do Campeonato Brasileiro.

Início no Flamengo e comemorações emblemáticas
Revelado nas divisões de base do clube, Gaúcho disputou 200 partidas com a camisa do Flamengo e marcou 98 gols. Exímio cabeceador, conquistou títulos importantes pelo Rubro-Negro, como a Copa do Brasil (1990), a Taça Rio (1991) — quando fez o gol do título na vitória por 1 a 0 sobre o Botafogo —, o Campeonato Carioca (1991) — balançando as redes na decisão contra o Fluminense, vencida por 4 a 2 — e o Campeonato Brasileiro (1992), fazendo um dos gols na primeira partida da final, vitória por 3 a 0 sobre o Botafogo.
Gaúcho foi artilheiro do Campeonato Carioca em 1990 e 1991, além de terminar como goleador da Libertadores e da Supercopa da Libertadores em 1991. Ídolo da Nação Rubro-Negra, o atacante era homenageado nas arquibancadas com uma adaptação de um samba da Ilha, que frequentemente ecoava no Maracanã.
— Ó que beleza, mais um golaço do Gaúcho de cabeça —, cantavam os torcedores do Flamengo.
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Conhecido pela irreverência dentro e fora dos gramados, Gaúcho eternizou seu nome na história do Flamengo com comemorações marcantes. Uma delas aconteceu na final da Taça Rio de 1991, quando marcou o gol que garantiu a vitória por 1 a 0 sobre o Botafogo. Na comemoração, imitou o gesto popularizado pela apresentadora Xuxa: "beijinho, beijinho, tchau, tchau", gesto que se tornou um de seus símbolos.
No ano seguinte, voltou a ser protagonista em mais um clássico contra o Botafogo. Na primeira partida da decisão do Campeonato Brasileiro de 1992, balançou as redes e ajudou o Flamengo a construir uma vitória maiúscula por 3 a 0, resultado que abriu caminho para a conquista do pentacampeonato nacional.
Fora das quatro linhas, Gaúcho também protagonizou episódios curiosos. Após aquele jogo, venceu uma aposta inusitada feita com Renato Gaúcho, amigo dos tempos de Flamengo que, na época, defendia o Botafogo. O pagamento veio em forma de churrasco, com direito a Renato servindo carne na boca do companheiro. A brincadeira, no entanto, teve consequências: a diretoria alvinegra, insatisfeita com a exposição, decidiu dispensar Renato após o episódio.

Quando o artilheiro virou goleiro: a noite mágica de Gaúcho no Maracanã… mas vestindo verde
Contratado pelo Palmeiras em 1988 após se destacar no Santo André, rapidamente se tornou titular absoluto graças ao seu faro de gol e oportunismo. Suas atuações foram fundamentais para as raras vitórias da equipe naquele Campeonato Brasileiro (apenas quatro em 12 jogos).
No dia 17 de novembro de 1988, o Palmeiras protagonizou um dos episódios mais inusitados e emocionantes de sua história. Em duelo válido pelo Campeonato Brasileiro, viveu uma noite marcada pelo improvável — e o adversário não poderia ser mais conhecido: o Flamengo.
A partida, disputada no Maracanã, caminhava para um final tenso. O Verdão vencia por 1 a 0 quando, aos 44 minutos do segundo tempo, o goleiro Zetti se lesionou após uma dividida com Bebeto. Com todas as substituições já realizadas, o técnico não tinha mais opções. A solução veio de onde ninguém imaginava: o centroavante Gaúcho vestiu as luvas e assumiu o gol.
Para piorar, o Flamengo conseguiu o empate, levando a decisão para os pênaltis — como previa o regulamento da competição, que garantia um ponto extra ao vencedor das penalidades. O momento era de total apreensão, afinal, o Palmeiras atravessava uma longa fase sem títulos, que só terminaria anos depois, em 1993.
Gaúcho, uma das grandes esperanças de gols da equipe na época, não fugiu da responsabilidade. E surpreendeu. Converteu sua cobrança com categoria e, no gol, defendeu dois pênaltis, ambos de jogadores que viriam a ser campeões mundiais com a Seleção Brasileira em 1994: Zinho e Aldair.
— Eu quero jogar. Eu quero correr atrás dessa bola dentro de campo. O futebol é a coisa mais importante que eu tenho na vida. Eu quero é jogar. Estou ajudando o Palmeiras —, declarou Gaúcho ao final da partida, depois de se tornar herói em uma noite inesquecível.
O atacante ainda participou da conquista da Taça dos Invictos, em 1989, antes de se transferir para o Flamengo no fim daquele ano. Ao todo, Gaúcho marcou 31 gols em 79 partidas pelo Palmeiras, número que o coloca entre os 100 maiores artilheiros da história do clube. E, se não entram na estatística oficial, as duas defesas nos pênaltis naquela noite valem tanto quanto qualquer gol que ele tenha marcado.
— Agora eu vou pegar. Nós vamos ganhar —. E pegou. E ganhou.
A luta pela vida
Gaúcho morreu no dia 17 de março de 2016. O ex-jogador havia descoberto um câncer de próstata em 2008. Inicialmente, realizou sessões de radioterapia e tratamento hormonal. Segundo Inês Galvão, o tratamento convencional o incomodava, especialmente pelos efeitos colaterais, como ganho de peso e cansaço excessivo.
Na busca por alternativas, Gaúcho decidiu realizar um tratamento experimental no Paraguai, conduzido por um médico que prometia “a cura do câncer”.
— O Gaúcho ficava louco com todo mundo que falava contra a ideia de ir fazer o tratamento no Paraguai. As pessoas começaram a falar para eu não deixar, tentei convencer ele a não ir, mas não adiantou. Ele estava decidido e a única coisa que eu podia fazer era ir junto, não podia deixar ele sozinho. Pegamos as meninas e fomos de carro até lá. Já na chegada achei estranho: era uma clínica geriátrica, dizia a placa. Um prédio baixinho de escritórios, dentro de um condomínio residencial, não me inspirou confiança. Não parecia algo de primeiro mundo, revolucionário. Mas como ele estava empolgado, não falei nada. Entramos e não havia outros pacientes — conta Inês.

O tratamento no Paraguai consistia em retirar células-tronco da coluna e reinjetá-las horas depois, com a ajuda de sessões em câmara hiperbárica e até na inoculação de bactérias que provocavam infecções controladas no organismo. O custo chegou a cerca de R$ 130 mil, valor que, posteriormente, foi devolvido pelo médico. Após três meses, o profissional afirmou que Gaúcho estava curado. Um dos pedidos durante o processo foi que Gaúcho interrompesse a terapia hormonal convencional e retomasse a reposição de testosterona, seguindo um protocolo diferente do habitual.
— O Gaúcho continuou tomando a testosterona e estava se sentindo ótimo. Voltou a fazer exercícios, emagreceu, ganhou tônus muscular. Parecia realmente que tinha acontecido um milagre. Quando ele dizia que estava curado, as pessoas ficavam felizes, comemoravam com ele, mas eu sentia que os amigos ficavam com um pé atrás. O Renato Gaúcho mesmo nunca acreditou nesse tratamento. Mas estávamos felizes, ele estava se sentindo ótimo, parecia saudável e tudo ia bem — comenta.
Tempos depois, o ex-jogador voltou a sentir dores no quadril e episódios de sudorese, sintomas semelhantes aos que surgiram no início da doença. Novos exames confirmaram a presença de metástase óssea. O médico responsável pelo tratamento no Paraguai afirmou que Gaúcho já estava com metástase quando iniciou o protocolo no país. A família, no entanto, contesta essa versão.
Gaúcho praticou futevôlei até uma semana antes de sua morte. Internado, foi entubado na UTI e permaneceu ao lado da esposa até o dia em que faleceu. O ex-jogador deixou quatro filhos: duas gêmeas de 11 anos, além de um jovem de 22 e outro de 28.