GERAÇÃO BRILHANTE

Rebeca Andrade, João Fonseca, Gabriel Bortoletto e Rayssa Leal: novos ídolos do Brasil

País vê jovens de sucesso lidarem com a pressão por resultados e serem ídolos nacionais

Por Anderson Gonçalves
Publicado em 28 de fevereiro de 2025 | 06:28

O futebol ainda goza do status de ser o esporte mais popular do Brasil (e do mundo), mas o torcedor brasileiro tem dado atenção a jovens talentos de outras modalidades, que estão surgindo no cenário nacional, criando novos ídolos, que acabam se tornando referências. 

Nomes como o do tenista João Fonseca, de 18 anos, melhor brasileiro na Associação de Tenistas Profissionais (ATP), na 78ª posição, da ginasta Rebeca Andrade, de 25, maior ganhadora de medalhas olímpicas de todos os tempos, de Gabriel Bortoleto, primeiro piloto brasileiro na Fórmula 1 desde 2017, de 20 anos, e Rayssa Leal, de 17, mais jovem medalhista olímpica da história brasileira, permeiam o dia a dia do país. 

Gabriel Bortoleto "colocou" o Brasil de volta na F1,  enquanto Raýssa Leal já brilha no skate Créditos: eproducao Instagram @oboticario(Bortoleto) e Gaspar Nóbrega/COB (Rayssa)

 

O surgimento desses jovens no esporte brasileiro tem gerado orgulho, não só pelos resultados, mas também pela postura fora do cenário esportivo, gerando iração do público, atraindo patrocinadores e muita atenção da mídia.

Maturidade

Rebeca Andrade e João Fonseca – que em 16 de fevereiro conquistou seu primeiro título de ATP da carreira, em Buenos Aires (ARG), entrando para a história do tênis do Brasil – falaram com a reportagem de O TEMPO Sports. Ambos disseram que tentam equilibrar, cada um a sua maneira, a vida de atleta com a de ídolos em um país, onde há uma hiper atenção de fãs e da mídia, gerando pressão por resultados.

 

“Sobre fama, redes sociais, eu fico um pouco fora disso e conto com minha família. Meu treinador é muito rígido com isso. Sei muito bem meu objetivo com o tênis: crescer, trabalhar e não focar muito o exterior”, disse João Fonseca.

 

“Pra mim, é tranquilo lidar com as coisas de fora do esporte. Eu tenho uma equipe muito boa, tanto fora quanto dentro do ginásio. Então, eles me ajudam em cada situação. E entendo a importância de ser referência, poder inspirar tantas pessoas, sendo da geração que está vindo, seja da geração que já ou. Para pessoas que não vivem do esporte, mas que torcem muito e usam as histórias e experiências que tive para suas vidas, de forma até pessoal. Então, fico muito feliz, muito orgulhosa de alcançar esse patamar, de estar nesse lugar (na vida e no esporte). Sei que não é fácil estar nesse lugar. Mas, ao mesmo tempo, levo com muita tranquilidade, porque sei como foi difícil chegar até aqui. E vou cuidar com o máximo de carinho possível para continuar a ser essa boa referência” contou Rebeca.

Estratégias 

Para o psicólogo do esporte e doutorando em coaching pela Florida Christian University, Thiago Linhares, é crucial que os atletas reconheçam a pressão que enfrentam, que pode vir da mídia, dos torcedores e até de suas próprias expectativas para buscar a melhor forma de reagir. “A construção de uma mentalidade resiliente é fundamental e envolve aceitar que falhas são oportunidades de aprendizado, e não reflexo do valor pessoal do momento”, destacou Linhares. 

Únicos em suas modalidades

Gui Santos é o único brasileiro na maior liga de basquete do mundo, a NBA- Crédito: Reproducao Instagram @guisantos

 

Dois brasileiros, que também são jovens destaques têm uma coisa em comum: geram alto grau de expectativa do público, pois são únicos em seus esportes. Gui Santos, de 22 anos, ala do Golden State Warriors, é o único brasileiro na NBA, maior liga de basquete do mundo. 

“Pois é. Eu sou o único brasileiro da NBA atualmente e eu não levo isso muito no peso de representar o Brasil. Lógico que é uma honra, mas eu levo isso muito na boa, porque eu sei que tem muitos garotos que me acompanham. Então, acho que, quanto mais você a essa tranquilidade, mais você a essa boa imagem para eles, é melhor para eles entenderem o que é necessário para chegar nesse nível”, disse Gui, que está na NBA desde a temporada 2022. 

Outro “único” é Gabriel Bortoleto, de 20 anos. Ele colocou o país de volta na Fórmula 1 depois de oito anos de ausência. Bortoleto falou sobre o retorno do Brasil à categoria. “Estou ansioso. Estou grato por representar meu país na principal categoria do automobilismo mundial. O brasileiro esperou por muito tempo por um piloto brasileiro. São oito anos, desde que o Felipe (Massa) saiu da categoria”, disse o piloto.

Sem comparações com Guga

Outro cuidado que João Fonseca e aqueles que cuidam da sua carreira têm é evitar que ele seja comparado a Gustavo Kuerten, o Guga, maior tenista brasileiro até hoje. Os bons resultados de João criaram uma expectativa de que ele possa ser o número 1 do mundo em breve. “A carreira do Guga foi incrível. Ele é um ídolo para mim, mas eu espero fazer minha própria história ao longo da minha carreira”, disse o atleta. 

“Existem outros esportes”

Rebeca Andrade destacou outro ponto importante na boa aceitação do seu trabalho e de outros atletas no Brasil, que vai além do futebol. “Pra mim, é um orgulho gigantesco (ser reconhecida). Mostra a valorização do meu trabalho e da minha equipe pra ter esses resultados. É importante também para mostrar que existem muitos outros esportes além do futebol. Sou grata pela nossa trajetória e orgulhosa de ter construído isso e ter toda essa visibilidade”, disse. 

Público maior

Gui Santos, ala na NBA, destacou um fato relevante para entender o apreço do brasileiro pela nova geração de atletas: se destacar em seu esporte, gerando interesse para um público maior. “O Brasil é um país que gosta de ver brasileiros se destacando. Começar a ter sucesso no seu meio acaba alcançando um público maior”, explicou.

Tradição

Gabriel Bortoleto também terá de lidar com o exagero na esperança de que ele seja campeão mundial de F1, “honrando” a tradição brasileira, que conquistou oito títulos de Fórmula 1, com Emerson Fittipaldi (duas vezes), Nelson Piquet e Ayrton Senna, com três conquistas cada um, na maior categoria do automobilismo. 

Futuro

A skatista Rayssa Leal, medalhista nos Jogos de Tóquio e Paris, também já virou presença constante no dia a dia do brasileiro. Ela, que ficou famosa aos 11 anos, está com 17 e já pensa no futuro após o esporte, mas que deve mantê-la em evidência. Ela quer ser modelo. “Não tem nada certo, óbvio, mas é um desejo muito grande meu. Seria uma experiência muito diferente do skate, seria um frio na barriga diferente”, disse em entrevista ao The Players Tribune.