Junho é o Mês de Conscientização sobre o lipedema, doença crônica, progressiva e ainda pouco conhecida, caracterizada pelo acúmulo anormal de gordura subcutânea, especialmente nas pernas e, em alguns casos, nos braços. Essa gordura, por vezes, provoca dor, desconforto, sensibilidade ao toque e alterações na forma do corpo, como nódulos e fibroses. A condição é frequentemente confundida com obesidade ou linfedema, o que dificulta o diagnóstico e o tratamento adequados.
Conforme o estudo “Prevalência e Fatores de Risco para Lipedema no Brasil”, realizado em 2023, a doença atinge 12,3% das mulheres brasileiras — o que representa cerca de 10 milhões de casos no país. Em 2022, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconheceu oficialmente a condição como uma síndrome clínica complexa, impulsionando estudos e avanços no diagnóstico e tratamento.
Segundo o médico Diego Torrico, o lipedema costuma surgir na puberdade e pode se agravar com a obesidade. Os sintomas mais comuns incluem sensação de peso e cansaço nos membros, dor crônica, inchaço desproporcional, facilidade em formar hematomas espontâneos, nódulos palpáveis, flacidez acentuada da pele e um aspecto ondulado, semelhante à celulite.
Apesar de afetar tantas pessoas, a condição ainda é negligenciada por grande parte dos profissionais de saúde. “O lipedema ainda é pouco reconhecido, mesmo entre profissionais da saúde, o que atrasa o diagnóstico e o início do tratamento. Conscientizar é fundamental para que mais mulheres possam identificar os sintomas, buscar ajuda especializada e evitar o avanço da doença”, destaca o especialista.
De acordo com Paulo Bastianetto, cirurgião vascular da Rede Mater Dei de Saúde da RMBH, o diagnóstico é essencialmente clínico. “Exames laboratoriais e de imagem podem complementar a avaliação. Já o tratamento do lipedema deve ser multidisciplinar. O acompanhamento clínico é indicado em todos os estágios e pode incluir dieta anti-inflamatória, atividade física, controle de peso, tratamento de doenças associadas, como varizes, e e psicológico. Nos casos mais graves, pode ser necessário o tratamento cirúrgico.”
O cirurgião também alerta que quanto mais precoce for o aparecimento da doença, maior tende a ser sua progressão. “Este acúmulo de gordura acontece de maneira involuntária, mesmo o paciente não estando acima do peso ou fazendo controle das calorias ingeridas. Além disso, essa gordura anormal e inflamada não responde e não reduz com medidas dietéticas ou emagrecimento”, explica o especialista.
Impactos psicológicos
Segundo Torrico, além dos sintomas físicos, o lipedema causa impactos emocionais profundos. “Muitas dessas mulheres foram vistas como ‘desleixadas’ ou ‘sem disciplina’, mesmo levando uma vida ativa, com alimentação controlada, exercícios regulares e, ainda assim, sem resultados nas áreas afetadas”, afirma. Esse histórico de invalidação gera consequências significativas na saúde mental. “O ciclo de dor crônica, com tentativas frustradas de emagrecimento e a dificuldade no reconhecimento da doença levam muitos pacientes a desenvolverem quadros de ansiedade, depressão, isolamento social, transtornos alimentares e queda na autoestima”, completa.
Tipos
Conforme a Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), o lipedema é classificado em cinco tipos, de acordo com as áreas dos membros que estão afetadas.
- Tipo I: acometimento do umbigo até os quadris;
- Tipo II: até os joelhos com presença de tecido gorduroso na parte lateral e inferior dos joelhos;
- Tipo III: até os tornozelos com formação de “manguito” de gordura logo acima dos pés;
- Tipo IV: acometimento dos braços; bastante associado aos tipos II e III;
- Tipo V: apenas do joelho para baixo.
Lipedema x obesidade
Conforme a Associação Brasileira de Lipedema (ABL), a obesidade é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, o que pode desencadear diversos problemas de saúde, como diabetes, doenças do coração e outras enfermidades crônicas. Esse excesso de gordura pode se concentrar em diferentes partes do corpo, de maneira irregular e assimétrica. Já o lipedema é uma condição crônica que acomete, em sua maioria, mulheres, sendo marcado pelo acúmulo anormal de gordura em regiões específicas, como pernas, coxas e glúteos, sempre de forma simétrica. Trata-se de um distúrbio que compromete a forma como a gordura é distribuída no corpo, o que o diferencia claramente da obesidade.