Pesquisadores finlandeses descobriram que o corpo humano mantém adaptações proteicas musculares por pelo menos dois meses e meio após a interrupção dos exercícios. A descoberta foi publicada nesta quinta-feira (29) no periódico científico The Journal of Physiology. O estudo demonstra que essa "memória muscular" facilita a recuperação quando os treinos são retomados, mesmo com a diminuição do volume dos músculos de 2 a 3 semanas de repouso.
A pesquisa avaliou as alterações nas proteínas musculares durante ciclos completos de treinamento, pausa e retorno às atividades físicas. Anteriormente, o fenômeno da memória muscular era associado principalmente à preservação dos mionúcleos nas células musculares. Segundo informações da Agência Einstein, essa descoberta amplia o entendimento sobre como nosso corpo mantém adaptações mesmo após períodos sem exercícios.
O estudo
Um grupo de cientistas da Universidade de Jyväskylä conduziu o estudo com 30 voluntários saudáveis que não praticavam musculação regularmente. Entre os participantes, 17 foram submetidos a um programa dividido em três etapas de dez semanas cada: treino supervisionado duas vezes por semana, pausa e volta aos treinos. O restante ficou no grupo de controle.
Os cientistas coletaram amostras do tecido muscular da coxa dos participantes ao final de cada fase do programa. As análises revelaram um padrão interessante nas proteínas musculares após o período sem exercícios.
"Isso reforça a ideia de que o músculo 'se lembra' de adaptações anteriores, não só ao nível celular ou epigenético, como já era sabido, mas agora também no nível proteômico", explica Brendo Faria Martins, especialista em fisiologia do exercício do Espaço Einstein de Esporte e Reabilitação do Hospital Israelita Albert Einstein.
O estudo identificou que proteínas específicas relacionadas à contração muscular, ao citoesqueleto e à sinalização de cálcio mantiveram suas alterações mesmo após o período sem atividades físicas.
"Agora temos uma demonstração objetiva de que certas proteínas ligadas à contração muscular, citoesqueleto e sinalização de cálcio também são mantidas. Esse achado reforça a hipótese de que há uma base molecular concreta para a memória muscular, indo além das estruturas celulares", acrescenta o especialista.
Os dados mostraram que, apesar da força e do volume muscular começarem a diminuir após duas a três semanas sem treinos, certas adaptações proteicas persistem por pelo menos dois meses e meio.
"Ou seja, embora a função e o volume muscular diminuam relativamente rápido, algumas marcas moleculares permanecem, o que ajuda a explicar por que a recuperação é mais rápida do que o ganho inicial", esclarece Martins.
De acordo com as evidências científicas, é possível recuperar a força muscular perdida após uma pausa em aproximadamente quatro a seis semanas de treinamento consistente. Sobre o tempo de recuperação, o especialista afirma: "Dependendo do caso, o tempo necessário é cerca da metade ou até um pouco menos do que foi necessário para conquistar os ganhos iniciais."
A partir desses achados, pessoas que precisam interromper seus treinos por até dois meses e meio podem esperar uma recuperação mais rápida ao retomá-los, graças às adaptações moleculares que persistem no tecido muscular.
"Quem treina regularmente tende a ter adaptações estruturais e moleculares mais robustas, como maior número de mionúcleos e epigenética favorável, que facilitam a manutenção e a retomada do desempenho. Já quem pratica pouca atividade pode até desenvolver essas adaptações, mas de forma menos eficiente e duradoura", conclui Martins.
Ainda não se sabe exatamente por quanto tempo essas adaptações proteicas podem persistir além dos dois meses e meio observados no estudo, o que demandaria pesquisas com períodos mais longos de acompanhamento.