BRASÍLIA – O governo federal pretende, por meio da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), reabrir investigação sobre a morte de Juscelino Kubitschek em um acidente automobilístico, no interior de São Paulo, em 1976. Era o período da ditadura militar. O ex-presidente sofria perseguição do regime.
O episódio sempre alimentou dúvidas. Há diferentes versões e especulações sobre o que aconteceu no dia 22 de agosto daquele ano. Uma delas é de que os militares mataram JK e o motorista que dirigia o Opala envolvido no acidente na Via Dutra. O caso está na pauta da próxima reunião da CEMDP, marcada para sexta-feira (14).
Caberá ao colegiado, ligado ao Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC), decidir por um pedido de nova investigação sobre a morte do ex-presidente. Caso a comissão decida pela reabertura do caso, ainda não há uma estimativa de tempo para o trâmite de todo o processo.
Confira a seguir a versão oficial a morte de JK e seu motorista, Geraldo Ribeiro:
A versão oficial sobre a morte de JK foi contestada pela família do ex-presidente, que chegou a pedir a exumação do corpo 20 anos depois. Em 1996, o caso foi reaberto e o corpo do motorista foi exumado, mas as conclusões da nova perícia foram as mesmas da primeira investigação.
Havia a suspeita de que o motorista do carro teria levado um tiro na cabeça, mas a perícia constatou que o objeto metálico encontrado em seu crânio era um prego do caixão.
No entanto, novos elementos para dúvidas surgiram poucos anos depois. Confira:
Além da comissão municipal de São Paulo, as Comissões Estaduais da Verdade de São Paulo e de Minas Gerais também apontaram que JK foi vítima de um atentado político. Os colegiados reuniram indícios de que não houve batida com o ônibus e apontaram que o carro perdeu o controle por causa de uma ação externa, que poderia ser uma sabotagem mecânica, tiro ou envenenamento do motorista.
Em 2024, o ex-vereador de São Paulo Gilberto Natalini, que presidiu a Comissão Municipal da Verdade, pediu ao Ministérios dos Direitos Humanos a reabertura da investigação sobre o caso. Como argumentos, Natalini usou o laudo do perito e a conclusão do inquérito do MPF de que não era possível comprovar o que causou o acidente que vitimou JK.
É esse pedido que motivou a CEMDP, quase 50 anos depois das mortes de JK e seu motorista, a levar para a próxima reunião o debate sobre nova investigação do caso.
Também sempre houve a tese de que a morte de três figuras centrais da política brasileira em menos de um ano era parte da Operação Condor, tocada pelas ditaduras do Cone Sul.
Além de JK, morreram entre dezembro de 1976 e maio de 1977 o ex-presidente João Goulart, de suposto ataque cardíaco, e o ex-governador da Guanabara Carlos Lacerda, de infarto no miocárdio.
Anos antes, os três — apesar de pertencerem a grupos políticos distintos pré-1964 — organizaram a Frente Ampla, em oposição à ditadura militar, que foi extinta pelos militares um ano depois, levando JK à prisão por um curto período
Nascido em Diamantina (MG), JK foi presidente do Brasil entre 31 de janeiro de 1956 e 31 de janeiro de 1961. Nesse período, construiu Brasília, sua maior obra dentro do projeto “50 anos anos em 5”.
Em 1961, ele se elegeu senador por Goiás e tentou viabilizar sua candidatura à presidência em 1965. Mas, com o golpe de 1964, foi acusado pelos militares de corrupção e de ser apoiado pelos comunistas. Como consequência, teve seu mandato cassado e seus direitos políticos suspensos.
A partir de então, ou a percorrer cidades dos Estados Unidos e da Europa, em um exílio voluntário. Em março de 1967, voltou definitivamente ao Brasil e se uniu a Carlos Lacerda e a Goulart na articulação da Frente Ampla.
O ex-presidente pretendia voltar à vida política depois de ados 10 anos da cassação de seus direitos políticos. Mas a morte na estrada interrompeu seu plano.