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Entenda o acordo de reparação da tragédia em Brumadinho
Mineradora Vale deve destinar R$ 37 bilhões para ações de compensação pelo rompimento das barragens da Mina Córrego do Feijão, em 2019

Diferente da tragédia em Mariana, cujo acordo de repactuação levou nove anos para ser firmado, o documento que visa as reparações pelos danos causados pelo rompimento de barragens em 2019 em Brumadinho, na região metropolitana, foi aprovado em dois anos. Com a medida, a mineradora Vale deve destinar R$ 37 bilhões para ações de compensação pela tragédia que matou 272 pessoas e espalhou resíduos de minério pela bacia do Rio Paraopeba.
Entenda os principais pontos envolvendo o acordo de reparação de Brumadinho:
O que é o acordo de repactuação da tragédia em Brumadinho?
O Acordo Judicial de Reparação de Brumadinho tem como objetivo garantir que a Vale seja responsabilizada pelos danos causados pelo rompimento das barragens B-I, B-IV e B-IV-A da Mina Córrego do Feijão, em 25 de janeiro de 2019. O documento foi assinado em fevereiro de 2021 pelo Governo de Minas, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), o Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública de Minas Gerais (DPMG), sob mediação do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG).
O acordo prevê a reparação de danos coletivos e difusos decorrentes da tragédia. Assim como o de Mariana, o documento é dividido entre “obrigações de pagar”, no qual o Poder Público assume a responsabilidade de executar as ações, e “obrigações de fazer”, que diz respeito às ações a serem executadas pela própria empresa.
As medidas de compensação são divididas em quatro grupos principais: Programa de Reparação Socioeconômica; Programa de Reparação Socioambiental; Programa de Mobilidade; e Programa de Fortalecimento do Serviço Público.
Qual é o valor total envolvido no acordo de repactuação e como ele será distribuído?
O acordo prevê mais de R$ 37 bilhões em medidas reparatórias ao estado de Minas, divididos da seguinte forma:
- R$ 5 bilhões: plano de reparação socioambiental da Bacia do Paraopeba;
- R$ 7,7 milhões: processo de discussão e de formalização do Acordo (medidas reparatórias executadas pela Vale; pagamento emergencial efetivado até a implementação do Programa de Transferência de Renda; ressarcimentos dos gastos do Poder Executivo Estadual; valores recebidos antecipadamente ao acordo, mediante decisão judicial, com o objetivo de fortalecer as medidas de enfrentamento ao coronavírus);
- R$ 3 bilhões: custeio e operacionalização dos projetos de demandas das comunidades atingidas;
- R$ 4,4 bilhões: Programa de Transferência de Renda à população atingida e sua operacionalização;
- R$ 2,5 bilhões: projetos para a Bacia do Paraopeba;
- R$ 1,5 bilhão: projetos para Brumadinho;
- R$ 1,5 bilhão: projetos de compensação socioambiental dos danos já conhecidos;
- R$ 2 bilhões: projetos de segurança hídrica;
- R$ 4,9 bilhões: programa de mobilidade;
- R$ 3,6 bilhões: programa de fortalecimento do serviço público;
- R$ 135 milhões: Biofábrica Wolbachia e Funed;
- R$ 310 milhões: despesas públicas e contratações temporárias de pessoal em função do rompimento;
- R$ 700 milhões: estruturação de apoio, inclusive auditorias e assessorias técnicas independentes;
- R$ 167 milhões: Termos de Ajustamento de Conduta já assinados com o Estado de Minas Gerais.
Quantos serão indenizados?
O acordo prevê o pagamento de cerca de R$ 4,4 bilhões dentro Programa de Transferência de Renda (PTR) à população atingida. O programa funciona como um auxílio emergencial aos afetados e é gerenciado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Conforme a instituição, até então, 148.401 pessoas estão recebendo o auxílio, sendo que já foram pagos R$ 3,36 bilhões. A duração estimada do programa é de quatro anos, porém, o tempo irá depender do número de novos beneficiários ingressantes, da reavaliação de benefícios bloqueados e negados.
O acordo firmado não interfere na possibilidade de adesão ao acordo individual negociado pela Defensoria Pública Estadual. Até então, 7.806 pessoas foram indenizadas, somando um total de R$1,3 bilhão. Os danos causados aos trabalhadores também resultaram em 2.509 pessoas indenizadas, em mais de R$1,2 bilhão.
Como participar do Programa de Transferência de Renda?
Para ingressar no PTR, o afetado precisa comprovar que, no dia da tragédia, em 25 de janeiro de 2019, cumpria algum desses critérios:
- ser residente da área delimitada como atingida (até 1 Km da margem do Rio Paraopeba e do Lago de Três Marias);
- pertencer a algum povo ou comunidade tradicional que vive na área atingida;
- ser residente das localidades do Córrego do Feijão, Tejuco, Parque da Cachoeira e Cantagalo, Parque do Lago, Alberto Flores, Pires, Monte Cristo/Córrego do Barro, Córrego Fundo, Assentamento Pastorinhas);
- Familiares de vítimas: ser pais, cônjuge, filho (a) ou irmão (a).
Atendendo o requisito, o interessado pode se cadastrar no portal do programa (ptr.fgv.br/brumadinho), ou ir presencialmente a um posto de atendimento do PTR nos municípios afetados, de acordo com calendário divulgado pela FGV.
Quanto Minas Gerais irá receber?
Dos R$ 37 bilhões, o acordo prevê que a Vale ree R$ 11,29 bilhões para ser executado pelo governo de Minas Gerais. Os recursos financeiros possuem fonte específica no orçamento e os valores são vinculados às iniciativas previstas, ou seja, não podem ser usados para fluxo de caixa ou pagamento de salários, por exemplo.
Conforme a Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão, os valores serão voltados para iniciativas de segurança hídrica, de mobilidade e de fortalecimento do serviço público, além de ressarcimentos, contratações temporárias e estruturas de apoio. Inicialmente, seriam destinados R$ 11,06 bilhões, mas ocorreram ajustes ao longo da execução.
Quanto será destinado para Brumadinho?
Para o município de Brumadinho, o acordo prevê R$ 1,5 bilhão. O valor está incluso no Programa de Reparação Socioeconômica e será dividido entre 39 iniciativas. Destas, 26 já foram iniciadas, sendo que 24 estão em execução e 2 já foram concluídas. As primeiras iniciativas, consideradas emergenciais, contemplam ações nas áreas de Saúde, Desenvolvimento Social, Desenvolvimento Econômico, Segurança Pública e Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Essas ações foram apresentadas às pessoas atingidas após a do Acordo, em 2021. As demais foram definidas com a participação das prefeituras e da população atingida que, por meio da consulta popular geral e da consulta popular específica para povos e comunidades tradicionais, indicaram as áreas prioritárias para investimentos.
Como está a situação na esfera criminal?
A ação penal sobre o rompimento da barragem em Brumadinho, envolve 16 pessoas físicas rés e duas empresas: a Vale, responsável pela estrutura, e a TÜV SÜD, que emitiu os laudos que atestavam a estabilidade da estrutura que rompeu.
O processo está na fase de apresentação das defesas dos citados. A próxima etapa é a audiência de instrução, que definirá o futuro do processo e a possibilidade de alguns dos réus serem julgados pelo Tribunal do Júri. Na acusação, são citados homicídios qualificados contra 270 pessoas e crimes ambientais contra a fauna e a flora.
Relembre a tragédia
A barragem da Mina Córrego do Feijão, da mineradora Vale, em Brumadinho, rompeu no dia 25 de janeiro de 2019, causando a morte de 272 pessoas e espalhando resíduos de minério pela bacia do Rio Paraopeba. As operações de busca e identificação das vítimas se iniciaram no mesmo dia e seguem até então, quase seis anos após a tragédia. O Corpo de Bombeiros localizou e a Polícia Civil identificou 267 pessoas. Três ainda seguem desaparecidas, enquanto outras duas eram bebês de duas grávidas, totalizando as 272 joias.