"Esqueceu para não esquecer": paradoxo do universo policial
Em meio a uma investigação, ou em uma cena de crime, há uma frase que sempre surge nos bastidores

Em meio a uma investigação, ou em uma cena de crime, há uma frase que sempre surge nos bastidores: “Esqueceu para não esquecer”. Para o cidadão comum, a ideia de esquecer algo pode ser apenas uma falha momentânea. No entanto, no universo policial, essa expressão ganha um contorno mais profundo e intrigante.
Esquecer nem sempre é uma questão de falha de memória; pode ser uma estratégia, uma tática deliberada para manter o controle da situação. Os profissionais da área de segurança pública, policiais e investigadores, estão constantemente submetidos à pressão de lidar com situações extremas.
Em muitos casos, esquecem detalhes, mas não por falta de cuidado, e sim como um mecanismo de defesa. Em investigações complexas, o acúmulo de informações, testemunhos e dados pode tornar-se inável. A mente humana, sobrecarregada, às vezes precisa apagar temporariamente certos detalhes para continuar a funcionar de maneira eficiente.
No contexto de investigações criminais, o ato de esquecer pode ser uma estratégia consciente. A memória seletiva pode ser uma aliada, pois permite que o foco seja redirecionado para o que realmente importa, preservando a integridade da investigação. Esquecer, então, não é apenas abandonar algo irrelevante, mas sim preservar a clareza para os elementos essenciais do caso.
Há também outro lado dessa moeda: o esquecimento pode ser uma tática manipulativa, aplicada por criminosos que, de forma estratégica, tentam apagar rastros e evitar a captura. No universo criminal, o esquecimento não é apenas uma falha; ele pode ser uma arma. Falsas lembranças ou até mesmo a ausência de detalhes cruciais em testemunhos podem ser utilizadas para desorientar autoridades e distorcer a verdade. O criminoso, ao escolher o que “esquecer”, pode manipular informações de maneira que enfraqueçam a investigação ou atrasem a resolução do caso.
Mas o esquecimento também se revela nas estratégias das vítimas. O trauma de um crime violento pode fazer com que a vítima recorra ao esquecimento como uma forma de sobrevivência emocional. Há uma complexidade nesse processo: ao esquecer detalhes que causaram dor, as vítimas conseguem, temporariamente, manter a sua saúde mental, para lidar com o horror do ocorrido.
“Esqueceu para não esquecer” é, portanto, uma frase cheia de implicações no mundo da segurança pública. Ela aponta para os limites da memória humana, para a complexidade emocional de quem vive situações extremas e para a inteligência dos criminosos que sabem como manipular a percepção dos outros. Em muitas ocasiões, esquecer é o único caminho para continuar, seja para preservar a saúde mental ou para proteger um processo investigativo.
Assim, o esquecimento na área policial é um paradoxo. Esquecer, muitas vezes, é uma maneira de lidar com a dor e com a pressão, mas, paradoxalmente, é necessário para não esquecer o que é realmente essencial. Nos bastidores das investigações, esquecer para não esquecer é uma estratégia, uma tática emocional e uma verdadeira arte da sobrevivência, tanto para aqueles que buscam a justiça quanto para aqueles que a violam.