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COLUNA

‘Netwar’ (guerra em rede)

A teia criminosa híbrida combina elementos de diferentes naturezas

Por Rodrigo Bustamante
Publicado em 24 de janeiro de 2025 | 06:00

Tratando-se de um mundo globalizado e interconectado, esses “arranjos” desafiam os limites tradicionais entre o legal e o ilegal, o público e o privado, a guerra e a paz. Essa nova “ordem” se tornou um grande desafio à defesa e à segurança pública, pois essas conexões buscam benefícios mútuos mesmo sem objetivos finais comuns, sem hierarquia clássica ou liderança formal, substituem as antigas posturas de grupos autônomos chefiados por indivíduos de destaque, redesenhando o mapa global da criminalidade.

O conceito de “netwar” aplica-se ao estudo das redes de organizações criminosas modernas, que operam de forma descentralizada, utilizando estratégias de coordenação flexíveis e tecnologias avançadas para alcançar seus objetivos. Nesse modelo, os grupos criminosos deixam de ser estruturas hierárquicas rígidas e am a funcionar como uma teia criminosa híbrida, conectando células autônomas que trabalham em conjunto, mas sem uma liderança central visível.

Essa arquitetura em rede oferece vantagens significativas em disputas modernas, permitindo respostas mais rápidas e flexíveis do que nas estruturas governamentais. Essas redes permitem que atores não estatais se organizem em estruturas “multiorganizacionais”, em que cada elemento (ou “nó”) está conectado a todos os outros, formando uma teia complexa e adaptável. Os “nós” de uma rede podem ser indivíduos (como traficantes de drogas ou ativistas políticos), organizações (como facções criminosas ou bancos), dispositivos (como drones ou satélites) ou sistemas (como redes de comunicação).

Esse tema foi muito bem abordado no artigo “Combate ao crime organizado: análise sob a perspectiva das redes”, de Erich Nelson Cardoso Hoffmann, oficial da Polícia Militar do Estado de São Paulo, doutor em ciências policiais de segurança e ordem pública. Essa abordagem permite maior agilidade, resiliência e capacidade de adaptação diante das ações de repressão por parte das forças de segurança. A teia criminosa híbrida combina elementos de diferentes naturezas – desde práticas tradicionais de contrabando e extorsão até o uso de ferramentas digitais, como criptomoedas e a darknet, para financiar e ampliar suas operações.

Essa fusão de métodos facilita o tráfico de drogas, armas e pessoas, além de possibilitar crimes cibernéticos sofisticados que alimentam essas redes. Por não dependerem de fronteiras físicas, essas organizações conseguem operar em escala global, desafiando as estratégias convencionais de combate ao crime organizado. Para enfrentar a “netwar” e as teias criminosas híbridas, os órgãos de segurança precisam adotar abordagens igualmente inovadoras e interconectadas. 

Isso inclui o uso de inteligência artificial, a análise de big data e a formação de alianças internacionais para compartilhar informações em tempo real. A luta contra o crime organizado em sua forma híbrida exige, portanto, um esforço conjunto, que integre tecnologia, cooperação transnacional e um profundo entendimento das estruturas de rede que sustentam essas organizações.