O primeiro carro a gente nunca se esquece...
Uma emoção indescritível narrada por um internauta que merece ser compartilhada
Este caso ocorreu nos idos de 1985, quando tive a experiência de comprar o meu primeiro carro. Estava na faculdade, estudava pela manhã e à tarde trabalhava no escritório de uma revenda Chevrolet de uma cidade do interior do estado. Começava os primeiros os na carreira de de Empresas, fazendo de tudo um pouco, para fazer jus ao salário que me pagavam.
Grupo tradicional
Na época, a empresa fazia parte de um dos grupos mais tradicionais em comércio de veículos do país, chegando a negociar grandes volumes de veículos com a GM, às vezes sendo a única detentora de um específico modelo, no país.
Entrando no mercado
Pois bem, após tomar conhecimento de como eram as transações via telefone das vendas dos veículos, para as “bocas” de São Paulo, Rio e demais regiões do país, entrei de cabeça e comecei a ser conhecido no mercado.
Ágio
Era a época do ágio, que veio junto ao Plano Funaro e vendia-se carro usado com preço de novo, zero pelo dobro da tabela e em alguns casos específicos os clientes ainda tinham que se organizar em filas, registradas em livros, nas concessionárias, para poder receber o seu tão sonhado carro novo, após três ou quatro meses.
Paixão à primeira vista
Foi num destes meses, em uma venda para um cliente que já aguardava na fila por mais de três meses que entrou um Chevrolet Caravan SL 1.980, frente nova, interior monocromático marrom, cor branca, que já tinha levado alguns retoques, placa do Rio de Janeiro (que eu nem me importei se tinha maresia ou se era roubada).
Chegou a hora
Neste momento ligaram dizendo que havia para receber como parte de pagamento este veículo, por Cz$ 350,00 (trezentos e cinquenta cruzados). Senti um arrepio que me deixou atordoado, o patrão havia prometido me fazer um preço especial num veículo usado, barato, que entrasse na troca de algum outro, novo.
Tudo certo
Tentou esquivar-se, mas não teve jeito. “Finquei o pé” na sala dele, e só saí, com a sua aprovação e também com o preço especial de Cz$ 270,00 (duzentos e setenta cruzados), que havia prometido. Liguei para a empresa e solicitei que providenciasse um motorista, para que enviassem, imediatamente, o veículo para BH.
Paixão à primeira vista
Acho que neste dia fiquei no escritório até umas nove horas da noite, esperando minha grande aquisição. Enfim chegou. Era como se fosse uma aparição, aquele carrão branco, parecendo uma ambulância. Foi amor à primeira vista.
Dividindo o momento
No dia seguinte, ao chegar ao escritório, liguei para os amigos para avisar que havia comprado um carro novo. Marquei de lavar o carro na casa de um deles que morava onde uma tinha grande garagem que poderia ser usada para toda a parafernália que levaria, para dar uma primeira “geral” no carro.
Operação lavagem
Cheguei cedo, abri o portão, coloquei o carro atravessado, meio no eio meio na rua, para a água escorrer e não ensopar a garagem. Comecei a tirar de dentro do carro, o aspirador, que mais parecia com aquelas capas de alumínio de bujão de gás, de tão grande, sacos e sacos de estopa para o polimento, uns quatro tipos os de panos, cada um para uma utilidade.
Parafernália
Fora o sabão de coco, balde, sabão em pó, escovinha para o carpete e também esfregar os pneus, um vidro de silicone para ar no , uma mistura de açúcar com álcool para ar nos pneus e mais uma enorme quantidade de utensílios, que nem eu sabia para que usar.
Mãos a obra
Já abrimos a cerveja e começou a maior e mais demorada lavagem que um carro já sofreu. Por volta de meio-dia, o sol já sapecava as costas do vitorioso lavador, que já não estava tão lúcido assim, como quando havia procurado aquela quantidade de coisas para lavar seu carrão. Foi quando reparei, que na sacada da casa do amigo, quase toda a família estava horrorizada olhando para a minha tão sonhada operação lavagem.
Sem entender
Boquiabertos, não entendiam porque tanta coisa espalhava-se pelo chão, principalmente aquele enorme aspirador de pó, junto com vassouras, baldes e muito mais, tanta sujeira no eio, e que indivíduo mais engraçado era aquele sujeito, todo suado, sujo e já meio atordoado pelas cervejinhas que tomava junto ao amigo.
Para sempre
Assistido por toda a família, que não entendia nada daquela situação, senti a maior sensação de liberdade e tomei uma ducha em plena da Avenida do Contorno. Do primeiro carro, a gente nunca se esquece...
*Espaço cedido ao leitor/internauta.