Fael bóia nessa!
Uma viagem a Cabo Frio (RJ) em meados dos anos 70 e em um DKW
Da primeira vez que usei este espaço para contar um caso pessoal envolvendo os automóveis, mensagens incentivadoras fizeram-me animar por uma nova e despretensiosa incursão na difícil arte da crônica. Alguns ainda se lembram do caso envolvendo o saudoso tio Paulo, que entregou as chaves de seu Corcel II, zero bala, a um vendedor de órios e disse a palavra mágica: “equipa”.
Trio elétrico
O carro saiu da loja parecendo um trio elétrico. Mas essa história já virou lenda e ficou para trás. Hoje vamos falar de outro saudoso tio, não por acaso, irmão do Paulo, e um apaixonado por automóveis, o sempre querido Cid Boy. Tio Cid se autodenominava “boy” desde que me lembro por gente.
Vanguarda
E sempre foi um “boy” mesmo, nos parâmetros que limitavam a caretice dos anos 80, tio Cid já freqüentava a academia de musculação do Minas Tênis Clube e desfilava pela cidade com um Opala, sempre “do ano”, vestindo roupas “modernas” que nem de longe lembravam a de nossos pais, bem mais conservadores, mas nem por isso menos amorosos.
Alto astral
Mas o Cid Boy se destacava da multidão e sempre foi assim. A chegada do Cid Boy nas festas da família era a mais aguardada. Uma piada nova, o alto astral e o vigor da juventude eram uma marca registrada de sua personalidade.
A frente do tempo
Quando em Belo Horizonte, ter uma motocicleta era coisa para poucos, tio Cid já havia presenteado o Alexandre, seu filho, mais conhecido como Bolão, com uma Yamaha YB 50 novinha, a coqueluche das motos para os meninos de 15 anos.
DKW
E assim foi com o Opala 250 S e outros mimos, então vanguardistas para a “moçada” dos anos 80. Mas não é esta a melhor lembrança que me faz remeter com saudade àquela época. Recordo-me que tio Cid gostava de viajar de noite, de madrugada, e na ocasião deste episódio, ele tinha uma DKW, azul marinho.
Verão
Tornou-se um hábito sair de Belo Horizonte, rumo a Cabo Frio - sempre com a fiel escudeira de toda uma vida, tia Dora - e os meninos, sua filha e minha saudosa prima Cíntia, o Bolão e o “Fael Bóia Nessa”, ou melhor, Rafael, um amigo inseparável do Alexandre, que sempre acompanhava a família nas viagens de férias.
Vemaguete
Em uma bela noite de janeiro, Cid Boy tocava a buzina da Vemaguete na porta de minha casa e todos nós descíamos para despedirmos. Tia Dora sempre animada, com os sanduíches prontos para o lanche na estrada e os meninos, na “cozinha” da Vemaguete, em ume época que não existia nenhum tipo de fiscalização rigorosa quanto ao transporte das crianças.
Caminho do mar
Uma bagunça que eu sempre ficava com muita vontade de participar. Seguiam viagem, alegres e felizes para um longo percurso que os levaria, sãos e salvos, para Cabo Frio, no meio da manhã seguinte. E assim foi por bons anos, sempre o Cid Boy e sua turma - acompanhados do “Fael Bóia Nessa” - a caminho da praia. E a roda da vida continuava em seu ritmo, crescemos todos, boas viagens fizemos também, mas a dúvida do porque que o Rafael era chamado de “Bóia Nessa” me acompanhou para sempre.
“Boia nessa”
Até que uma vez ousei perguntar e desvendar um mistério adormecido há décadas em minha memória. Cid Boy, rindo, logo me explicou: a primeira vez que o Fael viu o mar ficou maluco de alegria e todos estavam dentro da água quando uma onda forte começou a se formar, mas do que depressa Fael se virou e disse alto: Cid, Cid, bóia nessa, bóia nessa!
Daí, nunca mais o Rafael - até hoje amigo da família – deixou de carregar consigo o apelido “Bóia nessa”.