Seria a comunicação?
Apesar do desempenho dos níveis de emprego e do aumento da renda per capita, o novo ano não recebeu o governo Lula com grande simpatia
Apesar do desempenho dos níveis de emprego e do aumento da renda per capita, o novo ano não recebeu o governo Lula com grande simpatia. As pessoas mais exigentes olham agora para o copo meio vazio. As tendências de aprovação e desaprovação, que, desde o início de 2023, mantinham-se em níveis relativamente estáveis, com a aprovação em torno de 10 pontos percentuais acima da desaprovação, tomaram sentidos opostos. Aumenta a desaprovação, enquanto cai a aprovação. O que teria provocado essa mudança?
O governo vem insistindo que a queda de aprovação resulta de falhas na comunicação. O presidente Lula chegou a dizer que nem os ministros sabem o que o seu governo está fazendo e, no início do ano, trocou o comando da Secretaria de Comunicações, nomeando Sidônio Palmeira, que foi seu marqueteiro, para substituir Paulo Pimenta. Esses episódios me trazem à memória a campanha do candidato Hubert Humphrey, do Partido Democrata, à Presidência dos Estados Unidos, em 1968. Humphrey, vice-presidente de Lyndon Johnson, conhecia muito bem o funcionamento do governo. Nixon, candidato da oposição, sentia-se mais à vontade para apresentar propostas ousadas. Um dos slogans que se tornaram famosos na campanha do candidato democrata mostrava um sanduíche fast-food e perguntava “Where’s the beef?” (“Onde está a carne?”, em tradução livre). Humphrey perdeu para Nixon, mas deixou a lição de que comunicação sem conteúdo se dissolve no espaço. Porém, nem sempre.
A pesquisa Quaest, divulgada esta semana, oferece algumas pistas para se entender a mudança rápida no humor dos eleitores, ao aprofundar suas inquirições em oito importantes Estados sobre qual o problema mais grave que o seu Estado enfrenta hoje. Em cinco deles, violência e saúde representam mais de 50% das prioridades indicadas (RJ, 82%, RS, 64%, BA, 67%, PE, 57%, e SP 53%). Para os gaúchos, enchentes estão em segundo lugar (14%), que, somadas aos dois comuns a todos, atinge 78%. Metade dos Estados (RJ, BA, SP e PE) indica a violência como o maior problema, enquanto a outra metade (MG, PR, RS e GO) aponta a saúde. São questões que preocupam a grande maioria dos eleitores desses Estados – violência e saúde –, cuja responsabilidade é distribuída entre os entes federados, como foi no caso da pandemia. Enfrentá-los exige competente governança interfederativa e liderança política para construir alianças e apresentar resultados. Como a campanha de 2026 já está nas ruas, seria ingenuidade esperar ver resultados expressivos nesses campos. Trocas de ministros e bateção de bumbos continuarão, mas não serão suficientes.
Segundo a Quaest, disputando com Bolsonaro, Lula somente venceria nos dois Estados do Nordeste, empataria em Minas e no Rio e perderia nos outros quatro. No entanto, os políticos sabem que nas eleições o que conta é o desempenho da economia e do Orçamento público, que não estão, hoje, nas prioridades dos eleitores.