BH mon amour
Para celebrar o 127º aniversário de Belo Horizonte, a Casa Fiat de Cultura presenteou a cidade com a exposição “Belo Bracher Horizonte”
Para celebrar o 127º aniversário de Belo Horizonte, a Casa Fiat de Cultura presenteou a cidade com a exposição “Belo Bracher Horizonte”, que ficou aberta do final de dezembro até o início de fevereiro.
Bracher já havia feito uma exposição na Capital Federal, homenageando os 61 anos de Brasília, em 2021. Agora dirigiu seu olhar sobre BH. Há uma conexão profunda nas duas exposições, qual seja, JK. Bracher carrega influências barrocas profundas de Diamantina, cidade natal de sua mãe Ermengarda e de sua avó Josefina, que foram vizinhas de dona Júlia, mãe de JK, e do jovem Nonô.
As dualidades e as complementariedades da história de BH surgem, ora como oposição, um contra o outro, ora como síntese de sequências de tempos unidos pela singular cultura que tem, em um polo, o barroco português, sisudo e triste, e, em outro, o modernismo tropical, colorido, alegre, curvilíneo, que foram levados por JK para Brasília. ado, presente e futuro.
Ferreira Gullar observou que “não há em Bracher esse compromisso de fidelidade à realidade objetiva, com suas relações de volume e espaço, de cor e sensação luminosa. Muito pelo contrário, os motivos que pinta são pretextos para a aventura pictórica(visionária?), para o mergulho num universo indeterminado de formas e luzes, de onde surgirá o quadro, a obra de arte, que é o mundo transfigurado”. A arte, nos ensina Bracher, é um conluio entre o visível e o invisível.
Na sua procura interminável, Bracher enxerga nas ruas e praças, nos prédios públicos e nas casas tradicionais, a capital mineira transfigurada, refletindo o esplendor da liberdade derramada da explosão abrasada da serra do Curral.
O pintor desnuda em suas telas sua inquietação, suas angústias e sua procura incansável pela transcendência da alma. Seus quadros são expressões de suas dualidades (ambiguidades?), que transbordam de seu coração, expostas na predominância forte e anárquica dos diferentes tons de vermelhos, que parecem ecoar gritos de paixão e de dor (ou de liberdade?).
Bracher não é um artista sem raízes. Suas duas irmãs mais velhas, Celina e Nívea, foram excepcionais pintoras em Juiz de Fora, mas, de tão belas suas telas, quis o divino levá-las muito cedo para pintar no infinito. Carlinhos, então, seguiu a tradição artística do ambiente do “castelinho”, a casa dos Bracher na Manchester Mineira.
Discípulo direto do expressionista Van Gogh, Bracher entende que o pintor holandês foi o que mais compreendeu os enigmas e a propulsão espiritual da arte de pintar. Vendo seu “Autorretrato sem Óculos” (1984) pode-se notar na tela a ausência de sua orelha direita. Seria acaso ou a marca de sua identificação com o mestre?
Sobre Bracher, escreveu Carlos Drumond de Andrade “Encontrei-me com Minas Gerais através da pintura de Carlos Bracher. É o maior elogio que, de coração, lhe posso fazer. Viva Minas Gerais”.