Os vices dos sonhos
A pré-campanha para a Prefeitura de Belo Horizonte entrou na fase da escolha dos vices. Nomes surgem e desaparecem com rapidez.

A pré-campanha para a Prefeitura de Belo Horizonte entrou na fase da escolha dos vices. Nomes surgem e desaparecem com rapidez, mas a equação é simples de resolver. Há dois nomes que deveriam estar sendo cobiçados por todos os pré-candidatos à prefeitura, dispostos a sacrifícios para obter aliança na composição de suas chapas. São eles João Leite, para os candidatos de orientação política do centro à direita, e Rogério Correia, para aqueles ligados à esquerda.
João Leite, antes de mais, tem cacife político e eleitoral para ir ao segundo turno, se optasse por ser cabeça de chapa. Mas, desde o ano ado, Leite vem demonstrando motivação próxima de zero para se lançar como candidato a prefeito – o que é compreensível, dadas as sofridas derrotas pelas quais já ou. Como candidato a vice, entretanto, João Leite traria para a chapa seu enorme capital eleitoral, além de sua moderação política e o histórico de uma carreira pública impecável. A pressão psicológica e financeira pela vitória caberia ao eventual cabeça de chapa, deixando Leite mais tranquilo para desenvolver sua campanha.
Ainda, eleito como vice, João Leite ocuparia uma posição privilegiada para disputar novamente o cargo de prefeito, provavelmente com o apoio da máquina governista, dentro de alguns anos. Enfim, uma situação na qual todos teriam a ganhar.
Rogério Correia, por sua vez, não tem o carisma ou a força eleitoral de João Leite. Porém, ele traz consigo um público específico, que tem certa força política: o público tradicionalmente fiel ao PT, remanescente dos longínquos tempos em que Patrus Ananias foi prefeito da capital e deu início a uma longe e frutífera sequência de gestões petistas em Belo Horizonte. Esse público, que deve representar no mínimo 15% do eleitorado da capital, não pode ser descrito como genericamente “de esquerda”, pois tem identidade com a instituição do PT e com o modus operandi que o partido implantou na capital – com práticas como o Orçamento Participativo, por exemplo.
Como vice, portanto, Rogério Correia traria consigo a esquerda tradicional e institucional de Belo Horizonte, o que significa o a votos, consistência ideológica e istrativa e, sobretudo, um antídoto contra o discurso de costumes que pode vir a ser utilizado pelos adversários que forem discípulos diretos de Bolsonaro. Afinal, em nenhuma gestão petista em Belo Horizonte se produziu a revolução cultural tão temida pela direita. Como vice, portanto, Rogério Correia tem muito mais potencial do que como cabeça de chapa.
Em reunião recente com Lula, Rogério Correia e Bella Gonçalves (PSOL) trataram da sucessão na capital mineira, sem divulgar o resultado final dessa conversa. A julgar pela aliança que Lula articulou pessoalmente na cidade de São Paulo, cedendo o protagonismo ao candidato do PSOL, é bem provável que a ação do presidente aponte para a formação de uma chapa encabeçada por Rogério Correia em Belo Horizonte. Isso seria uma pena, em termos de desperdício de potencial eleitoral.