e mais publicações de Paulo Diniz

Paulo Diniz

Paulo Ricardo Diniz Filho é doutor em Ciências Sociais e bacharel em relações internacionais e istração pública

ELEIÇÕES EM BH

Embrulho de mangas

Transportar um embrulho de mangas parece não ter sido uma experiência vivenciada por três dos mais importantes pré-candidatos à Prefeitura de Belo Horizonte: Bruno Engler, Mauro Tramonte e Carlos Viana

Por Paulo Diniz
Publicado em 21 de maio de 2024 | 06:00

A distância entre Belo Horizonte e Bocaiuva é de cerca de 380 quilômetros. Na década de 1980, antes da duplicação de qualquer trecho desse caminho, em ônibus que paravam ao aceno de todos os pedestres ao largo do caminho, fazer essa viagem chegava a durar 11 horas. Nesse suplício, trazer para a capital um embrulho de mangas, feito de jornal com barbante, era requinte de crueldade.

Transportar um embrulho de mangas parece não ter sido uma experiência vivenciada por três dos mais importantes pré-candidatos à Prefeitura de Belo Horizonte: Bruno Engler, Mauro Tramonte e Carlos Viana. Ou, se já cumpriram essa tarefa, parecem ter se esquecido do suplício. Segundo constantes sinais do noticiário político, os três vêm disputando o duvidoso privilégio de carregar, em suas respectivas chapas, o maior “embrulho de manga” da atual pré-campanha: Luísa Barreto, a pré-candidata à prefeitura pelo Novo.

Barreto não tem carisma, sensibilidade política ou qualquer indício de traquejo eleitoral. Mas isso não é problema para quem está no Partido Novo, uma agremiação que chega próximo de se orgulhar dos resultados eleitorais insignificantes que vem acumulando desde a sua fundação – a ponto de hostilizar seu único político de destaque, o governador Romeu Zema. Luísa caminhava para um desempenho eleitoral ainda pior do que o obtido em 2020, quando havia disputado a Prefeitura de Belo Horizonte pelo PSDB, obtendo 1,3% dos votos válidos – porém insistentes articulações sobre seu abandono ou adesão a outra chapa foram ganhando cada vez mais volume.

Agora, as especulações já não podem ser ignoradas, dada a disposição de diversas lideranças envolvidas para comentar as negociações – supostamente secretas. Fala-se da adesão de Luísa a um dos três pré-candidatos que se posicionam mais à direita, sendo eles Engler, Tramonte e Viana. Há poucos dias, ela chegou mesmo a participar de um evento no qual esse último era a figura de destaque, o que não se espera que aconteça em uma disputa eleitoral.

Os termos dessa suposta aliança, entretanto, não fazem muito sentido. O apoio de Romeu Zema, patrocinador de Luísa, está longe de ser fator decisivo em Belo Horizonte: em seis anos, sua gestão não fez qualquer entrega para o público da capital, e o discurso que culpa as istrações anteriores já não consegue camuflar a queda na qualidade de serviços públicos essenciais.

Mesmo junto ao público ideológico, Zema não desponta como liderança, pois é ofuscado por Bolsonaro. Ainda assim, vale lembrar que o eleitorado da capital deve ter postura pragmática em outubro próximo, focada nos problemas da cidade – há mais de um pré-candidato, inclusive, disposto a manter o público focado no que é mais relevante.

O compromisso de que o eventual companheiro de chapa de Luísa Barreto apoie o candidato do Novo ao governo mineiro em 2026 é outro fator que a desabona grandemente como parceira eleitoral.

Não há ponto positivo em vista nessa parceria tão disputada. Pior, só mesmo se fosse um “embrulho de pequi”.