Semeando vaidades
Dirigir nos Estados Unidos pode ser uma tarefa desafiadora para um brasileiro. As placas de trânsito são baseadas mais em texto do que em sinais gráficos

Dirigir nos Estados Unidos pode ser uma tarefa desafiadora para um brasileiro. As placas de trânsito são baseadas mais em texto do que em sinais gráficos, não há padrão fixo para tal sinalização e, principalmente, é comum que procedimentos obrigatórios não estejam indicados de qualquer forma. Um exemplo é a conversão em “direita livre”: em cruzamentos, mesmo quando a luz vermelha do semáforo brilha, é permitido que se siga adiante se a conversão for à direita. Essa prática existe no Brasil, porém sempre a permissão para convergir é sinalizada, quando permitida. Nos EUA, as placas são raras, devendo o motorista usar seu bom sendo para avançar – legalmente – o sinal vermelho.
Explícitas ou implícitas, de toda forma, regras são regras. E, especialmente no trânsito, as regras precisam ser seguidas: são tantos os indivíduos conduzindo seus próprios veículos, que a liberdade de decisão é proporcional à possibilidade de que acidentes ocorram.
A julgar pela situação atual de Belo Horizonte, há motivos para preocupação. Motociclistas, especialmente os profissionais, estão instituindo a prática da “direita livre” no dia a dia da cidade, ao estilo dos ianques: avaliando, por conta própria, a conveniência de se respeitar o sinal vermelho. Entretanto, como ainda se encontram no Brasil, o que tais motociclistas fazem é descumprir explicitamente uma regra – cuja obediência não pode ser condicionada à conveniência pessoal.
Quando a sociedade começa a abandonar as convenções sociais, sem receio de punição, é sinal de que o espírito coletivo perde espaço para os desejos individuais. Se o ser humano não restringe o próprio ímpeto, quando está diante das regras sociais que seria obrigado a seguir, então apenas a força do Estado resta para detê-lo. Porém, como não existe força suficiente para conter toda a população nos limites da lei, então temos a receita para o descontrole social.
A obediência às regras básicas da convivência coletiva precisa ser generalizada e espontânea. Se esse acordo se quebra, com indivíduos agindo por conta própria em favor da conveniência pessoal, é sinal de que algo precisa mudar.
Uma retórica de união precisa ser adotada pelos agentes públicos, com urgência. A polarização política e ideológica precisa voltar para a gaiola da qual saiu há alguns anos, restringindo sua existência a um discreto balizamento do mundo político.
O personalismo na política eleitoral – hoje encarnado no “lulismo” e no “bolsonarismo” – é sinal claro de que o individualismo ocupou o primeiro plano. Assim, se a política se torna um choque de personalidades e vaidades, nada mais lógico ququanto para o Legislativo. Agindo assim, e e o individualismo ganhe força também no cotidiano das cidades – afinal, o que importa são pessoas, não leis.
Os eleitores de 2024, em todos os municípios do Brasil, devem debater, escolher e eleger ideias – tanto para o Executivo com um punhado de sorte, pode-se dar um recado vital para o país: quem semeia vaidades só pode colher egoísmo.