Brasil e México na Nova Ordem Industrial
Redesenhando o futuro da produção
O cenário geopolítico e econômico global está forçando uma reestruturação das cadeias de suprimentos, com empresas e governos buscando resiliência e segurança. A pandemia de Covid-19, as tensões entre grandes economias, os avanços tecnológicos e a pressão por sustentabilidade têm sido os principais catalisadores dessa transformação.
Brasil e México, duas das maiores economias da América Latina, estão em uma posição estratégica para se tornarem polos de industrialização nesse novo contexto. A Covid-19 revelou a fragilidade das cadeias globais, especialmente a dependência excessiva de regiões como a China. Um estudo da Capgemini mostrou que 72% das empresas enfrentaram disrupções durante a pandemia, levando 55% a diversificar fornecedores, enfatizando a necessidade de reduzir tempos de trânsito e aumentar a resiliência logística.
Além disso, a guerra comercial entre EUA e China gerou incertezas no comércio global, forçando empresas como a Apple a buscar novos países para suas operações. Nesse cenário, a América Latina, especialmente México e Brasil, surge como alternativa para mitigar esses riscos.
A Indústria 4.0 está revolucionando a produção global, com a automação e inteligência artificial melhorando a eficiência e flexibilidade. Fábricas inteligentes podem aumentar a produtividade em até 25%, favorecendo a construção de unidades industriais mais próximas dos centros consumidores. A crescente exigência por práticas ambientalmente sustentáveis também cria uma vantagem competitiva para cadeias de suprimentos regionais, estudos da PwC indicam que 65% dos investidores valorizam critérios ESG em suas decisões.
O Brasil, com sua matriz energética altamente renovável, possui um diferencial para atrair investimentos industriais focados em sustentabilidade.
Enquanto a Ásia permanece como potência industrial, Brasil e México têm a chance de explorar oportunidades de nearshoring e friendshoring. O México, com sua proximidade aos EUA e acordos como o USMCA, já é um polo industrial para América do Norte, com comércio entre EUA e México ultraando US$ 779 bilhões em 2022.
O Brasil, apesar de desafios em infraestrutura e burocracia conhecidos como “Custo Brasil”, poderia elevar seu PIB per capita em até 2% ao ano com a modernização de suas cadeias de suprimentos. Setores como agronegócio e energia são competitivos, e o país tem potencial para expandir em manufatura tecnológica.
Para aproveitar essa oportunidade, é essencial a colaboração entre governos e setores privados. Reformas fiscais e trabalhistas, além da melhoria da logística no Brasil, são cruciais. No México, a estabilidade regulatória será fundamental para continuar atraindo investimentos. Ambos os países devem investir em educação e qualificação, focando em ciência, tecnologia e engenharia.
O redesenho das cadeias globais traz desafios e imensas oportunidades. Brasil e México podem se reposicionar no novo mapa industrial global, oferecendo alternativas sustentáveis ao modelo concentrado na Ásia. Com políticas adequadas e investimentos em tecnologia e capital humano, esses países podem se tornar protagonistas da nova era industrial, contribuindo para um futuro mais seguro e sustentável.
Este é um momento crucial para empresas e governos latino-americanos; as decisões tomadas agora moldarão o papel dessas nações na industrialização global.
(*) Mateus Oliveira é diretor de Operações na Alvarez & Marsal e
membro do Open Mind Brazil