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COMÉRCIO

Perigos da sinodependência

Em 2024, a China representou 28,6% das nossas exportações, uma redução de 9,5% na comparação com 2023, ao mesmo tempo que as importações aumentaram 19,6%

Por Marcio Coimbra
Publicado em 26 de março de 2025 | 06:00

Ao longo dos anos, a China se tornou o maior parceiro comercial do Brasil. A balança entre os dois países, entretanto, começou a emitir sinais de alerta, especialmente pela acentuada queda em nossas exportações e pelo salto nas importações no último ano. Em 2024, a China representou 28,6% das nossas exportações, uma redução de 9,5% na comparação com 2023, ao mesmo tempo que as importações aumentaram 19,6%.

Já alertei em diversos artigos sobre os riscos de depositarmos somente em um parceiro comercial um elevado percentual de nossas trocas internacionais, o que classifico, no atual cenário, focado na China, como um claro sintoma de sinodependência. Neste contexto, nosso comércio internacional, pouco diversificado, torna o Brasil vulnerável a qualquer tipo de externalidade que possa ferir nossa economia.

No quesito importações, é fundamental entender que tipo de produtos o Brasil vem trazendo da China. Se em um primeiro momento estávamos falando de bens duráveis e equipamentos de telecomunicações, algo mudou nesse quadro. Aquilo que vimos em 2024 evidencia essa realidade, uma vez que o aumento de entradas da China veio acompanhado da importação de produtos de baixo custo no mercado brasileiro, um movimento que claramente prejudica nosso desenvolvimento industrial.

Ao contrário do Brasil, a China cerca sua economia de cuidados, diversificando parceiros, sem criar dependência de qualquer nação, algo que protege Pequim de solavancos e crises. Nenhum país possui uma fatia maior do que 9% nas importações chinesas. No Brasil, a dinâmica é a oposta, uma vez que 24,5% de tudo que importamos vem diretamente do país oriental.

Os números de nossas trocas com Pequim precisam ser avaliados com cautela, com o objetivo de evitar um aprofundamento desse cenário em que nossas exportações caem drasticamente, na mesma medida em que as importações de produtos de baixo custo e condições de produção suspeitas disparam em nosso país. Esse é um modelo que já foi experimentado e rejeitado por outras nações, especialmente por ser extremamente predatório para a economia nacional.

Vale lembrar que o avanço da relação com Pequim cobra também seus dividendos políticos. Apesar de a Nova Rota da Seda não ar pelo Brasil, no último ano ambos os países am 37 acordos que podem asfaltar esse processo, um caminho já abandonado por outras nações, como a Itália, que, assim como o Panamá, retirou-se da iniciativa por perceber que, além de lucros com a infraestrutura, a conta chega com uma boa dose de submissão política.

Atualmente, 65% de nossas exportações concentram-se em apenas cinco parceiros comerciais, sob a liderança inconteste de Pequim. O Brasil precisa encontrar soluções que visem evitar os riscos de uma sinodependência, que fornece sinais de alerta.

 Precisamos evitar os exemplos de Coreia do Sul e Itália, que, ao intensificarem suas interações com a China, sofreram sérios déficits comerciais. É extremamente necessário encontrar alternativas para estarmos inseridos nas cadeias globais de comércio de forma sadia e independente, longe de qualquer dependência.