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Os carteis, “organizações terroristas” no México

Implicações da estratégia dos EUA contra o crime organizado mexicano

Por Latinoamérica21
Publicado em 12 de março de 2025 | 11:38

Ernesto Hernández Norzagaray/Latinoamérica21

O anúncio há muito anunciado na arena política estadunidense chegou. O Registro Federal dos Estados Unidos designou seis carteis mexicanos como organizações terroristas estrangeiras e, ipso facto, o Departamento de Estado e o Departamento do Tesouro o oficializaram. Trata-se dos carteis de Sinaloa, Jalisco Nueva Generación, Noreste, Golfo, Abuelo e Unidos. Estamos falando de todos esses grupos do crime organizado que, somados, estão nos 32 estados da federação. E a maioria deles tem conexões internacionais.

A designação não é pequena, mas de extrema relevância para as relações entre Estados Unidos e México. Portanto, é importante a resposta da Presidente Claudia Sheinbaum, que manteve uma linha de argumentação baseada na “soberania e na não interferência de estrangeiros”, na aposta discursiva de “colaboração e cooperação” entre as duas nações.

Estratégia norte-americana

Embora existam contatos institucionais e acordos entre os responsáveis políticos de segurança dos dois países, os exercícios estadunidense estão nos aviões, drones e navios militares que cruzam a terra, o ar e o mar, o que poderia ir além dessas mesas de negociação; na verdade, já vai além delas, seja porque fazem parte dos acordos ou por motu proprio dos EUA.

Acima de tudo, pelas características da estratégia do governo dos Estados Unidos, que parece operar no mundo sem pedir permissão e submetendo as nações a pressões militares e tarifárias que deixam pouca margem de manobra para os líderes políticos que respondem não só, como disse a presidente Sheinbaum, aos princípios de seu projeto político, mas às forças da narcopolítica que construiram ao longo de décadas, como demonstram as pesquisas acadêmicas do sociólogo Luis Astorga e dezenas de investigações jornalísticas.

Legislação mexicana

E elas estão, inclusive, em seu próprio movimento político. Não basta a presidente dizer que está em sintonia com o governo estadunidense na luta contra as agora “organizações terroristas”; ela deve agir cumprindo a lei. Primeiro, porque o artigo 139 do Código Penal Federal define e pune os atos de terrorismo.

Essa disposição descreve um retrato falado do terrorismo em curso todos os dias: “Será imposta pena de prisão de quinze a quarenta anos e multa de quatrocentos a mil e duzentos dias, sem prejuízo das penas que correspondam a outros delitos decorrentes:I. Aquele que, utilizando substâncias tóxicas, armas químicas, biológicas ou similares, material radioativo, material nuclear, combustível nuclear, mineral radioativo, fonte de radiação ou instrumentos que emitam radiação, explosivos ou armas de fogo, ou por meio de incêndio, inundação ou qualquer outro meio violento, praticar intencionalmente atos contra bens ou serviços públicos ou privados, ou contra a integridade física ou emocional ou a vida de pessoas, que produzam alarme, medo ou terror na população ou em um grupo ou setor dela, para atentar contra a segurança nacional ou pressionar a autoridade ou um particular, ou forçá-lo a tomar uma decisão...”.

Essa norma tem sido letra morta há muitos anos, os anos em que o crime organizado deixou de ser uma atividade menor de um grupo de fazendeiros no Triângulo Dourado (Sinaloa, Chihuahua e Durango) para se tornar uma organização consolidada com conexões internacionais.

Narcopolítica estrutural

E é nesse ponto que estamos. Sheinbaum sabe que a narcopolítica, como o próprio Trump a definiu em vários discursos, é estrutural, o que exige uma mudança de um discurso agressivo para um discurso sereno e racional que seja bom para ambas as nações.

Porque proceder de forma abrupta seria desastroso para os equilíbrios políticos, econômicos e até mesmo sociais internos. E é por isso que falta uma estratégia gradual para desmantelar as estruturas criminosas que estão causando centenas de milhares de vítimas todos os anos nos Estados Unidos e no México.

Fala-se na mídia mais ou menos informada sobre a possível queda do governador de Sinaloa, que estaria por trás da prisão e traslado ao território estadunidense do chefão Ismael El Mayo Zambada, o que provocou uma guerra de sete meses entre facções do Cartel de Sinaloa que causou milhares de mortes e desaparecimentos forçados; também que os estados de Sinaloa, Durango e Tamaulipas poderiam ser classificados como narcoestados, o que implicaria, além de uma novidade nas escalas de classificação institucional, uma política pública específica, sem precedentes em qualquer país com esse tipo de problema estrutural.

E, ainda mais, atuando na área de “colaboração e cooperação”, há o ataque ao duplo aspecto dos grupos que geram violência e dos operadores financeiros.

Dilema de Claudia Sheinbaum

Bem istrado, é uma oportunidade, não isenta de riscos, para um governo que está ancorado na ideologia e nos interesses do ex-presidente López Obrador, que para muitos mexicanos continua sendo aquele que mexe o berço no mandato de Claudia Sheinbaum.

A questão é se a presidente estará disposta e será capaz de abrir mão dessa tutela ou se o governo Trump acabará por ultraá-la com incursões militares unilaterais, abertas ou clandestinas, conforme prevê a classificação emitida e certificada pelo Registro Federal e pelos Departamentos de Estado e do Tesouro dos EUA. O tempo corre para definições imediatas.

(*) Ernesto Hernández Norzagaray é professor da Universidade Autônoma de Sinaloa. Doutor em Ciência Política e Sociologia pela Universidade Complutense de Madri. Membro do Sistema Nacional de Pesquisadores do México.

Tradução automática revisada por Isabel Lima