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Kênio Pereira

Advogado, Consultor Especial da Presidência da OAB-MG e Diretor Regional da Associação Brasileira de Advogados do Mercado Imobiliário. Mande suas perguntas para [email protected] ou telefone (31) 2516-7008. Não é necessário se identificar.

KÊNIO PEREIRA

Jogadores de futebol e investimentos em imóveis

A importância da orientação profissional

Por Kênio Pereira
Publicado em 28 de novembro de 2024 | 07:00

Por atuar no mercado imobiliário há mais de 40 anos, percebi em diversos momentos atletas de destaque, em especial jogadores de futebol com grande potencial financeiro, realizando negócios imobiliários ilógicos e arriscados, que ao final resultaram em prejuízos. Em vários casos, fui contratado para resolver problemas jurídicos que poderiam ter sido evitados, pois bastava que o amigo ou parceiro do atleta – que é incumbido de representá-lo – se inteirasse das complexidades do mercado imobiliário com um especialista isento, que não tivesse interesse direto no fechamento do negócio para ganhar comissão.

Por alguns anos relutei em escrever este artigo, em respeito aos amigos e às pessoas de confiança dos jogadores que fizeram o que entendiam ser o melhor, mas que, por desconhecimento, foram induzidos a concluir negócios ruins, achando que eram bons. Assim, amos a entender como atletas com salários altos deixam de construir um patrimônio sólido.

A realidade é que grande parte dos atletas é preparada desde a adolescência para a profissão, despontando para o estrelato aos 17 anos e tendo apenas até os 35 anos para fazer sua vida financeira. A pressão e a exigência sobre o atleta são enormes, impossibilitando-o de obter uma educação financeira, diante da enorme carga de treinos e viagens. Assim, são impedidos de ampliar as relações com profissionais sérios que poderiam orientá-los nas aplicações dos seus rendimentos.

Orientação profissional

Na prática, diante da vida dedicada ao esporte, longe das atividades empresariais e dos negócios, ao ter o êxito de fazer parte de grandes equipes, inclusive no exterior, o atleta se vê na situação de deixar os negócios para seu “parça” ou parente, por não confiar em outra pessoa.

Sabemos que a maioria dos nossos atletas é proveniente de famílias simples, que nunca imaginaram realizar negócios milionários – entre eles, a compra de imóveis. Assim, ficam perplexos ao realizar transações de alto valor e ignoram que, se existir alguma pendência, podem perder dezenas de milhões.

Confiança em excesso

A boa-fé e a postura de julgar os outros baseando-se no fato de sermos honestos explicam o sucesso daqueles que oferecem negócios duvidosos para os parças e parentes do atleta de forma habilidosa. Por serem boas pessoas, os representantes dos atletas deixam de solicitar maiores explicações e sequer procuram orientação jurídica para entender os documentos e a redação complicada dos contratos. O grande erro é pensar que seria arrogância ou deselegância buscar maior segurança antes de qualquer documento.

O “vendedor esperto” é eficaz ao questionar, para constranger: “Não confia em mim? Acha que sou desonesto ou que estou mentido?”. E o comprador cai na armadilha ao dizer que confia e que vai a documentação sem a devida conferência. Pronto, está explicada a razão de vermos atletas, após se aposentarem antes dos 40 anos, ando aperto financeiro apesar de terem ganhado fortunas em seu período áureo.

Kênio Pereira
Advogado e diretor regional da Associação Brasileira de Advogados do Mercado Imobiliário