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Juliano Lopes

Juliano Lopes Lobato é barreirense, fundador do projeto Academia Móvel, professor de Educação Física, vereador apaixonado por BH e presidente da Câmara Municipal. Ele escreve quinzenalmente em O TEMPO.

JULIANO LOPES

Creche para idosos

Uma necessidade do coração e um compromisso necessário

Por Juliano Lopes
Publicado em 30 de abril de 2025 | 07:00

Dona Maria tem 78 anos. Todos os dias, sua filha sai para trabalhar às 7h e retorna às 19h. Nesse tempo, Dona Maria fica sozinha. O almoço na geladeira, e a TV é sua única companhia. Confunde-se com os remédios. O silêncio a faz conversar com fotos dos netos. Entediada, recorre aos grupos de WhatsApp. Outro dia caiu em um golpe. Esta é a realidade de milhares de idosos em nossa cidade.

Belo Horizonte está envelhecendo. São 460 mil habitantes com mais de 60 anos, 20% da população. Por trás desses números, existem pessoas que buscam dignidade, companhia e propósito.

Na Academia Móvel, há quase 20 anos, conheci Seu Antônio, 82 anos, viúvo após 60 anos de casamento. “Sabe, filho”, disse-me, “o pior não é a dor nas juntas, é a dor da solidão”. Essas palavras reforçam minha convicção na necessidade das “Creches do Idoso”.

A terceira idade traz transformações profundas: o corpo muda, e também todo um universo de relações. Doenças crônicas se acumulam, trazendo limitações. O isolamento social torna-se uma realidade cruel. A perda de papéis sociais após a aposentadoria gera crises de identidade. Quando os filhos crescem, a aposentadoria chega, os amigos partem, a viuvez se instala e um vazio silencioso pode surgir.

Os números não mentem: o Instituto de Psiquiatria do Paraná revela que as taxas de suicídio são 47% maiores na população com mais de 70 anos. Na população geral, a taxa é de 5,3/100 mil; aos 70 anos, sobe para 8,9/100 mil.

Conheci Dona Sebastiana, 73 anos, que me contou como suas mãos, antes habilidosas, agora tremem demais. “A pior parte”, confessou em lágrimas, “é sentir que virei um peso para meus filhos”. Quantas Sebastianas existem em BH? O sentimento de ser um “estorvo” corrói a alma de quem já foi pilar de sustentação.
Cada vez que um idoso precisa de ajuda para tarefas antes simples, perde um pouco de sua autoestima. Infelizmente, os maus-tratos – desde negligência até abusos – são realidade para muitos, até em seus próprios lares.

Durante a posse do prefeito Álvaro Damião, apresentei a proposta da “Creche do Idoso” como uma resposta humana a uma necessidade urgente.

As creches seriam espaços de acolhimento diurno com atividades recreativas, físicas e culturais. Profissionais qualificados garantiriam segurança, estímulo cognitivo e acompanhamento de saúde. Para as famílias, a paz de saber que seus idosos estão bem cuidados enquanto trabalham.

Imaginem um lugar onde Seu João ensine xadrez, Dona Lourdes compartilhe receitas, Seu Pedro lidere um clube de leitura. Um espaço onde habilidades sejam valorizadas, não esquecidas. Um lugar de encontros e propósito.

Em cidades que já implementaram esse modelo, como Sorocaba, os resultados são claros: redução de quadros depressivos, melhora na qualidade de vida e diminuição de internações hospitalares. Mais valioso ainda: o brilho que retorna aos olhos de quem se sentia esquecido.

O envelhecimento populacional é uma realidade incontestável. A forma como respondemos a ela define que sociedade somos. Convido meus colegas vereadores, o Poder Executivo e toda a sociedade a olhar além dos números, enxergando rostos e histórias.

Belo Horizonte pode se tornar referência nacional em envelhecimento com dignidade. Que nos tornemos! Quem não deseja isso para os seus?

É hora de implementarmos as “Creches do Idoso”. Não apenas porque os dados indicam sua necessidade, mas porque nossos corações reconhecem sua urgência. Envelhecer com dignidade precisa ser um direito de todos.