Iza Lourença

Carnaval, sim! Zema, não!

Protagonistas da festa são as pessoas

Por Iza Lourença
Publicado em 15 de fevereiro de 2024 | 08:00

Belo Horizonte, mais uma vez, entregou tudo e mais um pouco no que diz respeito a botar o bloco e o povo na rua. Em uma cidade com 2,7 milhões de habitantes, a estimativa é de ter reunido mais de 5 milhões de pessoas neste ano. Este é o tamanho e a potência da nossa festa. O crescimento do Carnaval de BH foi conquistado pela organização coletiva. Se hoje promovemos uma das melhores e mais movimentadas festas do país, é porque teve luta de muita gente pra isso.

Em 2009 o Carnaval foi crescendo pelo direito à cidade e ao espaço público. Uma resposta às medidas da gestão Lacerda com seu modelo de cidade privada. A resposta foi repressão. Marcio Lacerda chegou a decretar o fim dos eventos na praça da Estação. O centro da cidade virou praia, e ocupamos o espaço público com luta e folia.

Assim o Carnaval foi crescendo. Do Estado: repressão e burocracia. Dos produtores da festa, artistas e foliões: resistência. Em 2020, o governador Romeu Zema proibiu a circulação de alguns carros de som de grandes blocos uma semana antes do Carnaval com a imposição de regras que não tinham sido informadas em tempo hábil. Mas fracassou em estragar a festa.

Em 2023, o Carnaval ressurge imponente no pós-pandemia! Marcio Lacerda, o ex-prefeito inimigo das ruas, até fez um artigo para este jornal: “Um Carnaval pra chamar de nosso”, reivindicando a paternidade do Carnaval de BH. Chega a ser engraçado.

Neste ano, Zema e sua gestão privatista e antipovo resolveram pegar o dinheiro, que deveria ser destinado diretamente para os blocos de Carnaval, para fazer propaganda de si próprio. Com a frase “Carnaval da Liberdade”, Zema quis construir sua imagem em cima dos blocos e tomou um manifesto contra as ações marqueteiras, por transparência com os recursos da cultura e contra a repressão.

As avenidas Andradas e Afonso Pena ganharam uma estrutura de sonorização e trios elétricos com uma capacidade mais adequada ao tamanho que a festa exige.

Mas a verdade é que a estrutura e o investimento público deveriam ir para toda a produção do Carnaval, que se esparrama pela cidade e leva multidões.

Os blocos, dentro e fora da via sonorizada, não deixaram de se posicionar contra o governo. Foi lindo ver as ruas entoando o “Fora, Zema”, a solidariedade ao povo palestino, defesa da serra do Curral, pela prisão de Bolsonaro, campanha contra o assédio e a afirmação das pessoas negras e LGBTI+. Para que o governo estadual aprenda a respeitar quem faz o Carnaval!

O grande problema do Carnaval foi novamente o transporte coletivo, em especial o metrô. Um reflexo direto da privatização do governo: diminuição do número de funcionários para atender ao público, quantidade de trens insuficiente, intervalo de circulação de no mínimo dez em dez minutos e tarifa caríssima.

Isso já vinha sendo denunciado pela categoria metroferroviária e pelo nosso mandato. Trabalhadores estavam em estado de greve se algo mais grave acontecesse para garantir a segurança dos usuários.

A prefeitura, que é responsável pelos ônibus da cidade, também acumula críticas dos usuários, e algumas viraram até fantasias. A deputada Bella Gonçalves fez uma solicitação pela tarifa zero durante o Carnaval que não foi atendida pelo prefeito.

A Gabinetona tem acompanhado as políticas públicas para o Carnaval. Minha parceira Cida Falabella apresentou o relatório do grupo de trabalho com orientações para a construção de um Carnaval cada vez mais democrático e em diálogo com blocos de rua, blocos afro, blocos caricatos e escolas de samba.

O Carnaval da nossa cidade é um sucesso porque é protagonizado por milhares de pessoas. As ruas explodiram com brilho, alegria e cultura.

Viva o Carnaval do povo!