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Iza Lourença

Vereadora em Belo Horizonte (PSOL)

IZA LOURENÇA

Contra a violência política de gênero, a auto-organização feminista

Subrepresentação nos espaços de poder e as lições da Jornada das Mulheres

Por Iza Lourença
Publicado em 05 de dezembro de 2024 | 07:00

Em um evento histórico, mais de 250 mulheres, entre parlamentares, advogadas, psicólogas, comunicadoras e ativistas, de 21 Estados, se reuniram em Brasília, na última semana, para pensar juntas estratégias de lutas feministas e à violência política de gênero e raça no Brasil. Por BH, fui uma das convidadas para participar desse espaço potente de diálogo, reencontros e reafirmação de que é no coletivo que as sementes da transformação são cultivadas. 

O encontro foi convocado pelo Instituto E Se Fosse Você?, presidido por Manuela d’Ávila, que é, pra mim, uma das maiores referências feministas contemporâneas, que me inspiram a ter forças para permanecer na política e a querer transformá-la. Em comum, todas que participamos da Jornada de Mulheres Sem Medo de Mudar o Brasil, como foi denominado o evento, sofremos de algum modo a violência política de gênero.

Fomos ameaçadas e atacadas por sermos vereadoras, deputadas, candidatas, militantes, dirigentes sindicais e partidárias. Por sermos bissexuais, trans, travestis, PDCs. Por sermos negras. Por defendermos os direitos de quem trabalha ou por nos posicionarmos em defesa das nossas estatais, das serras, águas e riquezas naturais. Por enfrentarmos sem medo o fascismo, o ódio, o conservadorismo e a caretice de quem está acostumado a nos ver em condições subservientes.

É cada vez mais óbvio como a violência política de gênero é um projeto político. É vergonhoso o Congresso Nacional anistiar partidos que fraudam a cota de gênero. É inaceitável que a cota de gênero seja de 30% e não 50%, diante da realidade da nossa população.

Para esse problema complexo, precisamos construir soluções também estratégicas, que inclua o Legislativo, o Executivo e as instituições de Justiça, já que os covardes fascistas, que muitas vezes se escondem atrás de apelidos na internet, devem ser responsabilizados criminalmente. Sem dúvida, somente um movimento auto-organizado, coeso e massivo tem condições de cobrar que o Estado garanta o nosso direito de permanecer na política, nos espaços de direção e decisão.

A expectativa é que nossa articulação feminista, pelo fim da violência política de gênero, continue com um grande festival nacional, previsto para abril. Nós mulheres temos condições de pensar um projeto de Brasil e de apresentá-lo para ser discutido em 2026, ano em que teremos a oportunidade de vencer o bolsonarismo mais uma vez nas urnas. Nessa luta, podem ter certeza que estarei na linha de frente. 

Nossa cidade deve avançar

Em Belo Horizonte, o Projeto de Lei 899/2024, que Institui a Política Municipal de Enfrentamento da Violência Política Contra a Mulher e foi proposto por mim, Cida Falabella, Professora Nara e Professora Marli, é um o fundamental para discutirmos esse tema na cidade. 

Para nós, enfrentar a violência política de gênero é defender a nossa democracia. Porque não é possível falar em democracia, enquanto as mulheres estiverem sub-representadas nos espaços de poder. Não é possível falar em democracia, enquanto nós, que estamos nos espaços de poder, não tivermos garantias de que conseguiremos exercer nossos mandatos em segurança.

A Jornada de Mulheres reafirmou isto: que somos muitas, temos força e não desistiremos até transformarmos a política em um espaço seguro para a diversidade das mulheres. Essa pauta será central para nós no próximo período, até que a sociedade perceba que já deu dessa política dominada pelo identitarismo dos homens brancos, cis e ricos.