Sucessão no Vaticano

Novo representante receberá Igreja com vários desafios

Próximo papa precisará ter perfil pós-moderno para manter unidade na diversidade

Por LITZA MATTOS
Publicado em 01 de março de 2013 | 00:47

A partir de hoje, Joseph Alois Ratzinger será conhecido como papa emérito ou bispo emérito de Roma, mas também poderá continuar a ser chamado de Bento XVI, seu título papal. Após seus oito anos de pontificado, muitos acreditam que seu sucessor terá que lidar com uma Igreja diferente.

Para o consultor jurídico-canônico do Secretariado da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), frei Evaldo Xavier Gomes, o próximo papa recebe a Igreja com parte dos problemas já sanada. "Bento XVI deixa o caminho pronto, como alguém que vem antes e corta a trilha no mato e prepara a agem. Dessa forma, o próximo papa não encontrará obstáculos intransponíveis, enxergará direções claras a serem tomadas", aposta Xavier.

Segundo o padre José Cândido da Silva, da paróquia de São Sebastião, em Belo Horizonte, foi nos últimos dias de seu pontificado que Bento XVI, sem o peso de algumas pressões internas, tomou as decisões mais difíceis. "Ele vai entregar para o sucessor um retrato que os outros papas não conseguiram entregar. Em um dossiê com cerca de 300 páginas, ele mostra ao próximo papa onde está essa ferida, com todos os nomes, problemas e lugares que o sucessor deverá atacar como sendo fundamentais", disse o padre, referindo-se aos novos escândalos da Igreja.

Silva lembra que, desde o pontificado de João Paulo II, Bento XVI já queria promover mudanças, mas foi impedido. "Quando o papa percebeu que não conseguia de fato levar à frente tudo o que pretendia, por exemplo, as investigações de pedofilia, teve muitas barreiras. Afinal, o papa também não pode tudo", afirma o padre. No entanto, para o pároco da igreja de São Sebastião, essa atual crise não é motivo de preocupação. "Por mais que se possa imaginar uma situação ruim como dizem, sabemos que a Igreja já está acostumada e a por diversas crises há mais de 2.000 anos, como a perseguição no Império Romano, na Idade Média, e outras épocas. Não é agora que isso vai acabar.. Essa é uma crise séria, mas há um ideal que vai além da pretensão humana", comenta o padre.

Desafios. Para Camilo Lelis, professor do departamento de ciências da religião da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), o novo papa irá receber uma Igreja com vários desafios. "Um exemplo é a grande demanda por diálogo. O novo papa terá que ter um perfil pós-moderno, com jogo de cintura e capacidade de entrar nessa cultura e tentar manter a unidade na diversidade da Igreja Católica. O sucessor vai encontrar uma Igreja mais sedenta disso".

O frei Evaldo Xavier Gomes concorda. "A Igreja possui várias questões para serem resolvidas. De um lado, ser fonte de valores e de moral para a sociedade. E, por outro, deve acolher o sentimento da modernidade que interpela a Igreja com novos valores e questionamentos. Isso deve ser feito sem perder o vínculo com a palavra de Deus e com a mensagem de Cristo, que é a missão da Igreja Católica. Isso é intransigível, não pode mudar", considera.