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Mundo observa Conclave, mas eleição tem importância para não católicos? Entenda relevância do papa
Líder religioso de menos de 20% da população mundial, pontífice também é símbolo moral e diplomático
O novo papa liderará menos de 20% da população mundial — de acordo com o Vaticano, existem hoje cerca de 1,4 bilhão de católicos no mundo, em um universo de 8,2 bilhões de habitantes. Ainda que sua influência direta seja sobre uma minoria de pessoas, o substituto do papa Francisco é aguardado com ansiedade em grande parte do mundo, mesmo por quem não professa a mesma fé. Mas qual é, na prática e simbolicamente, a importância do papa e do Conclave para os não católicos?
Em primeiro lugar, está a atração humana pelos rituais, introduz o teólogo Raylson Araujo. “Embora muito imersos no mundo cada vez mais digital, tecnológico, materialista e consumista, nós temos sede dos ritos, valorizamos os ritos, ainda valorizamos as tradições. A sociedade ainda tem sua sensibilidade pelos ritos, pelos rituais, pelos elementos históricos. Alguns mais, outros menos, mas, em geral, ainda valorizamos essa dimensão”, argumenta.
Nesse sentido, o Conclave é irresistível. São dezenas de os e minúcias envolvidos no processo. O simbolismo da fumaça que sobe da chaminé da Capela Sistina, a atmosfera de segredo que envolve os cardeais incomunicáveis com o mundo e a expectativa pelo pronunciamento que anuncia “Habemus Papam” são elementos que têm ocupado páginas dos jornais em todos os continentes e mantido a concentração de espectadores há dias.
Uma vez eleito, o papa também se torna, em certa medida, uma bússola para grande parte do mundo. “Ele tem uma importância de autoridade moral, além de ser o líder da Igreja e de responder em nome dela, de orientá-la, ensiná-la e aos membros da igreja, dar um direcionamento”, elabora o doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Gregoriana, especialista em Vaticano e diretor do Lay Centre em Roma, Filipe Domingues. “Na minha opinião, o papa Francisco era a maior autoridade moral que nós tínhamos hoje. Era uma pessoa que poderia sentar em qualquer mesa e todo mundo pararia para ouvir. Norte, Sul, Leste, Oeste, direita, esquerda, todo mundo pararia para ouvir e prestar atenção no que ele tinha para falar”.
Um papa mais conservador significa um mundo igualmente mais rígido?
As apostas dos observadores do Conclave pendem ora para papas de um perfil mais conservador, ora mais liberal. Na perspectiva de alguns analistas, essa escolha reflete e influencia também os ventos da política mundial.
O teólogo Raylson Araujo pondera que essa divisão é muito presente no radar da imprensa e de alguns setores da Igreja, mas é mais profunda do que uma simples divisão binária. “Na verdade, a Igreja, na sua doutrina, na sua dimensão do dogma, segue conservadora. Ela tem o seu magistério muito bem definido. Então, existem questões que são inegociáveis, mas na dimensão pastoral, a Igreja é bastante progressista”, diz.
Um exemplo é a questão do casamento. O dogma da Igreja continua a determinar que o matrimônio é a união indissolúvel de homem e mulher. Na dimensão pastoral, isto é, no dia a dia da religião com os fiéis, as ideias avançaram e, hoje, reconhece-se que há situações em que o casamento pode ser dissolvido. Sob o papa Francisco, a Igreja facilitou o processo de dissolução do matrimônio, embora ele fosse crítico ao divórcio, como todos os outros antes dele.
Em um momento de avanço dos direitos civis de pessoas LGBTQIAPN+ em parte do mundo ocidental, o papa Francisco atuou no como desse tempo e, em alguma medida, fez acenos a essa população. Ele falou a favor da bênção — mas não ao matrimônio — a casais homoafetivos, por exemplo.
Em um momento de retrocesso nos direitos dessa população e ataques à diversidade em grandes nações, como nos EUA sob Trump, por exemplo, a perspectiva de um papa sobre os temas também pode aprofundar esse cenário ou, pelo contrário, servir como um contraponto moral. É o que argumenta o professor da PUC e da UFMG e presidente da Comissão Arquidiocesana de Justiça e Paz (CAJP) da Arquidiocese de Belo Horizonte, José Luiz Quadros de Magalhães.
“Um papa conservador ajuda a piorar a situação nos EUA, por exemplo, assim como um liberal pode se contrapor a isso e acirrar os ânimos na própria Igreja. Por isso, aposto em um moderado. A expectativa é que o caminho seguido seja um papa moderado, mas corajoso, muito na linha de Francisco”, aposta.
O papa e a paz
Além de um chefe religioso, o papa também governa o Vaticano, um Estado soberano. Mesmo sem poder de barganha geopolítica, o papel diplomático do papa não a despercebido, e é tradicional que ele advogue pela paz em conflitos globais.
“Não se trata simplesmente de um discurso. É uma fala que abre os olhos talvez de pessoas ou setores da sociedade que estejam ignorando certos conflitos. O papa Francisco falava com frequência da guerra na faixa de Gaza e do conflito da Rússia e da Ucrânia, mas ele também lembrava outros conflitos que, às vezes, avam despercebidos em algumas coberturas midiáticas. Muitas vezes, ele citou, por exemplo, o Mianmar, e citou alguns conflitos no continente africano. É uma fala que com certeza chama a atenção e tem peso”, conclui o teólogo Raylson Araujo.