30 DE MAIO

Dia Mundial da Batata Frita: veja lugares em Belo Horizonte onde a receita é levada a sério

Crocante, dourada e universal, o prato ganha versões sofisticadas e até ousadas que que elevam o seu sabor a outro patamar, nos bares e restaurantes

Por Lorena K. Martins
Publicado em 30 de maio de 2025 | 06:53

Ao abrir o cardápio da recém-inaugurada Casa Azeite, em Belo Horizonte, uma frase salta aos olhos: “Você venceu, batata-frita”. O nome não é à toa e representa uma rendição afetuosa — quase inevitável — de quem tentou resistir à onipresença desse petisco dourado e crocante, mas se viu, como todos nós, encantado por seu sabor universal. “Todo mundo ama e sente falta de comer batata-frita, até nos restaurantes mais sofisticados”, confessa a chef e sócia-proprietária Iolanda Vila Nova. “A batata-frita une as pessoas.”

Presente em diferentes culturas e estilos culinários, a batata-frita conquistou não apenas as mesas de bares e lanchonetes, mas também o respeito de chefs renomados e dos menus mais sofisticados da gastronomia. Celebrada neste 30 de maio, onde se comemora o Dia Mundial da Batata Frita, ela tem um dia só dela — embora motivos não faltem para que o prato mais democrático do mundo siga sendo lembrado o ano inteiro.

Na Casa Azeite, que se rendeu ao petisco, ela aparece em uma releitura surpreendente: cortada à mão, fermentada por um dia em água salgada para preservar textura e cor, pré-frita e só finalizada no momento do serviço. Servida com maionese de alho, páprica defumada e cebolete, a sugestão é um sucesso de saída e desperta curiosidade entre os clientes.

Casa Azeite: porção de fritas é servida com maionese de alho, páprica defumada e cebolete. Foto: Victor Schwaner/ divulgação

 

Além da Casa Azeite, há outros endereços onde a batata-frita é levada muito a sério. A conclusão é unânime: não há chef que se oponha — a batata-frita venceu. Quem compartilha esse ideal é o chef Daniel Tassi, do bar Padrim, onde a porção de fritas é uma das estrelas do cardápio. “Acredito que seja um prato democrático”, diz Tassi, responsável por uma das versões mais criativas da cidade: servida com sal artesanal, maionese de leite, caramelo de sriracha e queijo Canastra curado por 90 dias. Ele conta que a receita ou por algumas evoluções desde a abertura da casa, mas sempre com êxito no paladar dos comensais.

Bar Padrim: a batata-frita é servida com queijo curado, caramelo de sriracha e maionese de leite. Foto: Victor Schwaner/ divulgação

 

Para chegar à combinação ideal, o chef aposta em testes e na chamada “memória gustativa” — aquele repertório de sabores acumulado pelas cozinhas por onde ou. “Como tudo em cozinha, é testando que vemos se funciona”, explica. A técnica também é essencial para manter o equilíbrio entre crocância e maciez: no Padrim, as batatas são pré-fritas, resfriadas e depois finalizadas em uma segunda fritura, em um processo ainda manual. Segundo o chef, os jovens costumam preferir batatas com queijos derretidos, como cheddar e muçarela, enquanto combinações como pastrami e sour cream agradam a quem busca algo mais ousado. Mas uma coisa é certa: “A batata-frita é o coringa do menu”, afirma.

Em meio a pratos autorais e de execução refinada, a batata-frita também ocupa lugar de destaque no cardápio da Casa Riuga. Para o chef Pedro Paulo, a escolha carrega um forte componente afetivo: “É um prato que todo mundo gosta”, resume. E não por acaso — a batata é uma das preferidas da também chef e sócia do restaurante, Carol Elias, que divide com ele a cozinha.

Técnica de chef, alma de boteco. Mas, assim como confessam outros chefs, a simplicidade do ingrediente não significa falta de técnica. Por lá, a batata escolhida é a bolinha, preparada em um processo que dura dois dias, com cocção lenta, congelamento e fritura final, garantindo o equilíbrio perfeito entre crocância e maciez. “E aí vem um pulo do gato: quebramos uma a uma com as mãos, deixando um formato bastante irregular”, explica.

O resultado é uma batata crocante por fora, com interior macio. “Cada pedacinho irregular fica bem crocante, e o interior, macio — quase um purê de batatas. Sem falar no formato, que é a bocada perfeita”, conta Pedro.

Acompanhada de uma maionese com limão — que traz frescor — e da leve picância da páprica, a batata da Casa Riuga é pensada para valorizar contrastes de sabor e textura. Para fechar a combinação, entra em cena um picles de cebola feito na casa, com base adocicada e ácida. “Brincar com esses sabores tem funcionado muito bem”, diz Pedro Paulo.

Casa Riuga: maionese de limão e páprica é o toque especial da batata bolinha. Foto: Alice Leite/divulgação

Já o chef Victor Zulliani, do Terraço Niê, entusiasta declarado da iguaria, aposta em um preparo artesanal que começa com a escolha da variedade — ele opta pela batata marquesa, preferida por sua baixa quantidade de água e textura mais sequinha, ideal para frigir. O processo envolve dupla fritura: primeiro a 160 °C, seguida de resfriamento e congelamento, para só então ser finalizada a 180 °C. “Ela fica com casquinha crocante e interior macio”, explica o chef.

Terraço Niê: a versão da clássica fritas com queijo e bacon é feita com parmesão e presunto de copa maturado.  Foto: Victor Schwaner/ divulgação

 

Com queijo e bacon. Mas o que realmente transforma o prato é a composição de sabores que acompanha a batata — afinal, em tempos de criatividade gastronômica, o prato mais popular do mundo talvez nunca tenha sido tão autoral. Zulliani combina a crocância com queijo provolone — feito artesanalmente com leite de búfala em Minas Gerais —, presunto copa maturado e um aioli de cebola queimada, que traz um toque adocicado e defumado à receita. “É uma releitura da clássica batata com queijo e bacon, só que com ingredientes de altíssima qualidade e sabor marcante”, diz. “Meu maior prazer ao criar é descobrir ingredientes únicos, casar com algo simples como a batata e transformar em algo especial”, acredita.

Simples, crocante e genial

No Nimbos Bar, em Belo Horizonte, a batata-frita ganhou status de símbolo e desafio. Desde a inauguração da casa, em 2017, o chef Luli Moreira aposta em uma filosofia clara: fazer o simples de forma excelente. “Fazer batata frita caseira ainda é raro. É um diferencial, mas, mais do que isso, tem tudo a ver com o propósito do Nimbos”, diz ele. O preparo artesanal envolve várias etapas técnicas - como pré-cozimento, resfriamento e dupla fritura - e depende de um insumo que é tudo, menos estável. “A batata é viva, muda com o clima, com a safra. Já tivemos reuniões só para resolver problemas com ela”, conta. Hoje, a casa consome um pouco mais de uma tonelada do ingrediente por mês e trabalha com a variedade marquesa, pela boa resistência ao calor e melhor desempenho em grandes volumes.

Mas o domínio da técnica é apenas o ponto de partida. As batatas se transformam em prato principal com coberturas ousadas, divertidas e cheias de referências. Um exemplo é a Chopped Cheese Fries, inspirada em um cheeseburger desconstruído: leva carne moída de hambúrguer, cebola, cheddar, picles e maionese da casa. Outro sucesso é a Shablei, uma mistura improvável (e adorada) de requeijão de corte, cebola caramelizada, rúcula, bacon e mel. Já a Nimbowurst é feita com salsicha bratwurst, ketchup de curry, vinagrete de pimenta jalapeño. “Gosto de trazer ingredientes que você não espera encontrar numa batata-frita”, explica Luli, que vê no prato uma espécie de comida universal, capaz de unir veganos, vegetarianos e carnívoros na mesma porção.

Nimbos Bar: nimbowurst é feita com salsicha bratwurst, ketchup de curry, vinagrete de pimenta jalapeño.

 

Mais do que um acompanhamento, no Nimbos a batata-frita se tornou uma linguagem própria: o prato continua evoluindo, como um manifesto informal da alta cozinha de rua. “Brincar com o que é simples e transformar em algo surpreendente é o que me move”, resume o chef.

Clássico revisitado

Antes de adquirir uma linguagem própria nos menus atuais, a batata-frita protagonizou versões nas cozinhas internacionais que se tornaram um clássico, como a icônica “Moules et Frites”: um prato clássico da culinária belga e também muito popular no norte da França. A combinação é simples e deliciosa: mexilhões cozidos (geralmente no vapor com vinho branco, alho, ervas e às vezes creme) servidos com batatas fritas crocantes. No restaurante Mitra, o prato clássico é servido com mexilhões aromatizados com tomates confitados, cebola, vinho branco e creme de leite.

Mitra: versão do clássico prato moules et frites é servida no restaurante.  Foto: Lucas Cancela/Estúdio Grampo/divulgação