Força-Tarefa Yanomami

Voluntários chegam a conta-gotas: apenas 0,2% dos inscritos estão em Roraima

Devido à falta de estrutura local e adaptação de indígenas ao atendimento, governo federal restringe o de mais pessoas ao território

Por Lucas Morais
Publicado em 14 de fevereiro de 2023 | 23:30

No início de fevereiro, quem caminhava pelo Hospital de Campanha e Casa de Apoio à Saúde Indígena (Casai), em Boa Vista (RR), e observava o ir e vir de Yanomami, militares fardados e enfermeiros não conseguia ver onde estavam os mais de 22 mil inscritos no cadastro de voluntários para a Força Nacional do SUS somente nas primeiras 24 horas de chamado. A resposta recorde à abertura de vagas anunciada pelo Twitter pelo presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 22 de janeiro representou um crescimento de 700% nos voluntários em relação a todo o dezembro.

 

Contudo, os novos integrantes só começaram a chegar 12 dias depois. Ao todo, cerca de 0,2% daqueles inscritos inicialmente. Os 62 médicos, enfermeiros e outros profissionais da área fizeram treinamentos sobre características culturais dos indígenas e atualizações sobre procedimentos clínicos na Universidade Federal de Roraima.

 

Em coletiva de imprensa, no dia 6, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, disse que limitações logísticas dificultaram a convocação dessas equipes. “Estamos, também, restringindo esse voluntariado que tem chegado de todos os lugares. Tem uma ansiedade, uma vontade de ajudar, mas a base aqui e o movimento indígena local precisam também de tempo para organizar o apoio que está chegando”, pontua.

 

A expectativa era que, dentro de alguns dias, eles começariam a atender. “Os médicos que vão chegar da Força Nacional do SUS, nos próximos dias, vão para as comunidades”, disse Júnior Yanomami, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami.

 

A reportagem de O TEMPO, questionou o Ministério da Saúde sobre a chegada dos membros da Força Nacional do SUS à Terra Indígena Yanomami. A assessoria informou que confirmou o envio dos 40 profissionais em 3 de fevereiro. Mas, até o fechamento deste caderno, não havia respondido se as comunidades locais haviam sido consultadas sobre as dificuldades de estrutura, hospedagem e transporte para milhares de voluntários até a região.

 

Entre médicos, enfermeiros, nutricionistas, farmacêuticos e assistentes sociais, os membros da Força Nacional do SUS vão integrar nove grupos multidisciplinares para atendimento no Hospital de Campanha, em Boa Vista, e jornadas em postos nos territórios indígenas Surucucu, Auaris e Missão Catrimani na busca ativa de pacientes.

 

Pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz e com experiência em atendimento médico aos Yanomami, Paulo Basta ressalta que a deficiência no atendimento médico aos indígenas é um problema estrutural.

 

“Hoje em dia, com algumas obras de infraestrutura, há estruturas minimamente apropriadas. Mas, na terra Yanomami, são 9 milhões de hectares, 384 comunidades e só 78 postos de saúde. São 37 polos-base de saúde, e alguns têm estrutura mais ou menos, mas a maioria é precária. O primeiro ponto é ter infraestrutura”, avalia.

 

Desde o começo do ano, o governo federal tem feito uma série de medidas: uma equipe de técnicos do Ministério da Saúde desembarcou em Roraima em 16 de janeiro para fazer um diagnóstico das condições de saúde dos indígenas da região.

 

Ações emergenciais foram tomadas em janeiro, como a instalação do Hospital de Campanha no terreno da Casai, com os casos mais graves levados ao hospital em Boa Vista. Milhares de cestas básicas começaram a ser distribuídas, por via aérea, às comunidades, e as crianças também receberam suplementação.

 

Com relação à logística de distribuição, a estimativa do governo federal era que as reformas na pista de Surucucu, em território Yanomami, ficariam prontas ainda em fevereiro.