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Garimpeiros vendem 1 kg de arroz por R$ 100 a indígenas
Mesmo valor é pago aos Yanomami aliciados por exatamente 1 kg de ouro extraído

A chamada “Rua do Ouro”, que concentra dezenas de joalheiras e lojas de compra e venda do metal em Boa Vista (RR), fica a cerca de um quarteirão do Monumento ao Garimpeiro – estátua de um afro-indígena segurando uma bateia, erguida nos anos 1960 para exaltar a importância da atividade em Roraima –, perto da sede dos Poderes.
Seja nos supermercados, mercados e lojas de materiais de construção, o dinheiro oriundo da atividade ilegal impulsiona a economia e gera desafio ainda maior para o governo acabar com a exploração.
Uma moradora local, que pediu anonimato, diz que “até cinco aviões por dia transportam o ouro da Terra Indígena Yanomami (TIY) de madrugada, usando pistas clandestinas no entorno da cidade”. Destacando ter amigos que trabalham no garimpo, ela conta que garimpeiros aliciam os Yanomami e pagam cerca de R$ 100 por quilo do metal extraído. Mas cobram dos indígenas o mesmo valor por 1 kg de arroz ou R$ 50 pelo pacote de flocão.
Os lojistas da “Rua do Ouro” não falam sobre as denúncias de que o metal teria origem ilegal. Sem se identificar, vendedores afirmam que o ouro é de alianças quebradas vendidas pela população.
A TIY, que ocupa uma área 291 vezes maior que a área de Belo Horizonte, é uma miríade de recursos naturais que sempre atraiu a cobiça de garimpeiros e afins, à margem da legislação brasileira. O drible constante na fiscalização é potencializado pelas características do local.
“É a maior reserva indígena do país, de difícil o e densidade populacional mínima. Por isso, até o combate ao crime fica prejudicado”, diz um agente de segurança que atua na região e pede anonimato.
Cassiterita
Na TIY, a garimpagem é majoritariamente em busca do ouro, mas, de uns anos para cá, a cassiterita virou febre. “É um subproduto do ouro, mas mais pesado e encontrado em maior quantidade comercial. Sua exploração ou a ser mais vantajosa economicamente com a alta no preço do dólar e por causa do valor no mercado internacional”, explica um agente de segurança pública que atua na região há anos e pediu anonimato.
Com a escalada da tecnologia – impulsionada pela pandemia de Covid-19 e pela guerra da Ucrânia –, o mineral, rico em estanho (de alta maleabilidade e resistência à corrosão), tem se tornado valioso para garimpeiros ilegais, que vendem o recurso para indústrias de latas de alimentos, acabamentos de veículos, fabricação de vidros e telas para celulares. O quilo da cassiterita é negociado, em média, a R$ 95.
Debandada. Na segunda semana de fevereiro, o Ministério da Justiça iniciou as ações para retirada dos garimpeiros ilegais do território Yanomami. A debandada elevou o preço do transporte aéreo para até R$ 15 mil por pessoa.
Por isso o temor é que eles fujam para cada vez mais dentro da selva e próximo aos povos indígenas isolados – elevando o risco de doenças e mortes. Para evitar o retorno deles, o ministério explicou que o foco será nos financiadores do garimpo.