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CARESTIA

Aluguel caro e custo de vida alto ‘expulsam’ moradores de BH

Gasto com habitação cresce mais do que a inflação da capital

O senso comum está certo: o custo de vida em Belo Horizonte não para de subir. Os dados oficiais confirmam o que os moradores da cidade sentem na disparada de preços no supermercado, na educação dos filhos e na habitação. No acumulado deste ano, a inflação da capital e região subiu 6,17%, acima dos 4,42% da média nacional e a mais alta entre todas as 16 regiões pesquisadas pelo IBGE. No coração desse aumento estão os gastos com habitação, que aumentaram 6,55% em 2024.

O aperto que o belo-horizontino sente no bolso ao pagar o aluguel ou procurar uma casa própria não surgiu neste ano. É um processo que se arrasta há décadas – e tem potencial para piorar. “É uma cidade que vai ficando mais elitizada. O aluguel é um ônus excessivo, e o preço da terra é muito caro e vai expulsando as pessoas de BH, onde estão concentrados os postos de trabalho”, explica a professora de ciências sociais da PUC Minas e pesquisadora do Observatório das Metrópoles Luciana Teixeira de Andrade.

Em dez anos, o preço médio do m² dos imóveis à venda em BH explodiu. Em 2014, era R$ 5.653. Decorrida uma década, em setembro de 2024, ou para R$ 9.084, alta de 60,6%, segundo o índice FipeZap, medidor nacional de preços com base em anúncios. O mercado imobiliário justifica que o cenário é de pressão para ele também. “A pandemia aumentou muito o custo da construção, e ele não baixou depois. Há também escassez de mão de obra. Construir está mais caro, e os imóveis para a classe mais baixa migraram para Vespasiano, Contagem... BH não tem muitas áreas”, argumenta o diretor da Câmara do Mercado Imobiliário e Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI/SecoviMG), Luís Lara Rezende.

Isso não freia completamente as obras, contudo. Só neste ano, a Prefeitura de Belo Horizonte registrou 917 certidões de baixa de construção –  documento que atesta a finalização de uma obra. E que tipo de imóveis são esses? O Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG) dá pistas. Em dados que agregam BH e Nova Lima, ele revela que somente 7,9% dos imóveis lançados na região são do padrão econômico. Outros 30,9% variam de alto a superluxo.

Bem no centro de BH, no lugar de um estacionamento, na rua Espírito Santo, acaba de ser inaugurado um prédio de 14 andares divididos entre 86 unidades residenciais e 41 comerciais, o Metrópolis. Com apartamentos que variam de cerca de 46 m² a 101 m², o preço médio dos imóveis é R$ 550 mil, de acordo com a construtora. No vídeo de entrega de chaves do empreendimento, um comprador comemora: “Eu estava buscando um apartamento para investimento, com um preço bacana, dentro do orçamento. Acredito que melhor do que vender e aproveitar esse ‘upside’ de valorização é conseguir um bom aluguel e uma rentabilidade com a unidade”.

Mudança na paisagem

O presente e o futuro da capital parecem ser verticais. Saem os prédios de três andares e entram os edifícios mais altos. “Não vale a pena (construir prédios menores), porque a área está escassa e os terrenos, caros. Antes havia prédios menores com apartamentos íveis, mas agora eles exigiriam uma renda absurdamente alta”, diz o presidente do Sinduscon-MG, Raphael Lafetá. Outra reclamação do setor é o Plano Diretor da capital, que, na perspectiva dele, limita e encarece as construções. Já para a prefeitura, estimula investimentos nas diferentes regionais da cidade.

A verticalização é apontada por especialistas como uma alternativa para adensar áreas com grande infraestrutura ao redor, como grandes vias e transporte coletivo próximos. Transportada da teoria às ruas da cidade, porém, ela nem sempre entrega o que promete, provoca a pesquisadora do Observatório das Metrópoles Luciana Teixeira de Andrade. “Existe a ideia de que uma cidade densa é melhor, mas o que assistimos em BH é à elitização. Na Savassi, no Anchieta, você tinha prédios de três andares onde morava uma classe média, média baixa, em prédios antigos e sem garagem. Aí, você faz um prédio imenso no lugar e tira a classe média para colocar a população de renda mais alta. Você adensa a cidade, mas para um grupo muito específico”.  

Preço sobe mais em BH do que no Rio e em SP

A escalada do preço do aluguel em Belo Horizonte é forte. Em 12 meses, ele subiu quase 16,3% em BH, ou seja, 2,4 vezes mais do que a inflação municipal geral nesse período. É um índice maior do que o de cidades com um custo de vida habitualmente considerado mais elevado, como Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo.

A maior fatia do déficit habitacional em Minas Gerais não é de pessoas que não têm onde morar, mas de famílias que gastam mais de 30% do orçamento com a locação. Procurar uma região da cidade com um aluguel mais barato não resolve o problema, apenas o transforma, pondera a arquiteta e ex-secretária nacional de habitação Maria Henriqueta Alves.

Periferia

“As pessoas procuram e encontram aluguéis em bairros menos assistidos, mais no entorno da cidade, na periferia, transbordando para os limites, porque é onde conseguem pagar. Mas esse aluguel, se comparado à avaliação desse imóvel, é muito mais caro do que na Centro-Sul, onde há conforto, estrutura e é uma zona muito mais bem servida de infraestrutura. É um mecanismo perverso”, afirma ela. 

“A moradia ou a ser alvo de investimento, e não direito da maioria das pessoas”, conclui a pesquisadora do Observatório das Metrópoles Luciana Teixeira de Andrade.

*Essa matéria compõe o caderno especial Habitar, com reportagem de Gabriel Rezende, Gabriel Rodrigues, José Vítor Camilo, Juliana Siqueira, Raissa Oliveira, Raquel Penaforte e Tatiana Lagôa; edição de Karlon Aredes e fotos de Alex de Jesus, Fred Magno, Thomás Santos e Flávio Tavares.