Se o sonho de fazer carreira em uma única empresa perdeu força na geração Z, os números mostram que os jovens nascidos entre 1995 e 2010 ainda valorizam empregos formais e querem estabilidade. Em 2024, o Brasil atingiu um recorde na contratação de jovens aprendizes, programa que capacita e insere adolescentes e jovens de 14 a 24 anos no mercado formal de trabalho. De janeiro a novembro do ano ado, 98.242 jovens foram contratados como aprendizes, um aumento de 12% em relação ao mesmo período de 2023, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
Para o secretário de Qualificação, Emprego e Renda do MTE, Magno Lavigne, os números refletem o perfil de experiência que a geração Z busca viver. “Eles valorizam direitos trabalhistas e qualidade de vida, o que influencia a escolha por empregos com melhores condições e salários”, destaca.
Segundo Lavigne, o MTE não tem dados precisos sobre a quantidade de jovens que ficam nas empresas, no entanto é possível afirmar que o programa funciona como um aporte para o primeiro emprego. “A experiência como aprendiz aumenta a empregabilidade, pois os jovens adquirem conhecimentos práticos e se familiarizam com a dinâmica do mercado”, argumenta.
A especialista em recrutamento Fabiana Santos ressalta ainda que há uma percepção equivocada de que a geração Z não quer trabalhar ou não valoriza empregos formais. “Isso não é verdade. Eles querem, sim, mas buscam empresas que ofereçam desafios, desenvolvimento e propósito. Se a empresa não está preparada para isso, pode ser que eles não se identifiquem”, explica Fabiana, que é gerente de atração e seleção de estágio e trainee da Selpe. “A geração Z valoriza benefícios que promovam bem-estar, saúde mental e flexibilidade, além de empresas que tenham um impacto social e ambiental positivo”, acrescenta a profissional de RH.
Lucas Estevam,16, é um exemplo dessa realidade. Jovem aprendiz desde os 14 anos em uma loja da marca Reserva, em Belo Horizonte, ele destaca a importância dos valores da empresa em sua escolha. “Escolhi a Reserva por suas ideias e pelas pessoas que trabalham lá. Sou comunicativo, e trabalhar com o público tem sido ótimo”, diz. Uma vez por semana, Lucas frequenta o Centro de Integração Empresa-Escola de Minas Gerais (CIEE-MG) para atividades teóricas.
A coordenadora pedagógica do CIEE-MG, Sileni Magalhães, explica o papel da instituição na preparação dos jovens. “Trabalhamos não apenas o conhecimento técnico, mas também o desenvolvimento de ‘soft skills’, como comunicação, resiliência, empatia e flexibilidade. Capacitamos os jovens para que tenham maturidade e mentalidade adequadas ao mercado”, afirma.
Lucas reconhece que o aprendizado técnico e comportamental foi crucial em sua experiência. “Eu não sabia me expressar direito, usava muitas gírias. Aprendi muito e já me considero outra pessoa”, conta. Apesar do bom desempenho como vendedor e da boa relação com a equipe, ele não pretende seguir carreira na loja. Seu objetivo é ser servidor público. “Aos 20 anos, me vejo como bombeiro em Minas Gerais. Estou estudando muito para isso. Depois, quero comprar um apartamento e tirar minha carteira de habilitação”, planeja.
Para Ana Beatriz Almeida, 20, o emprego como caixa de um restaurante deixou de ser interessante porque a intensa carga horária e os turnos aos fins de semana começaram a prejudicar seus estudos. Essas condições a fizeram desistir do comércio. “Fiz meu cadastro no Centro de Integração Empresa-Escola de Minas Gerais (CIEE-MG) e fiquei aguardando uma oportunidade em uma empresa melhor. No restaurante, eu só tinha uma folga por semana, e ficava muito difícil estudar”, relata.
A oportunidade como jovem aprendiz surgiu em uma emissora de TV. A experiência foi tão transformadora que o sonho de cursar medicina deu lugar a uma nova paixão: o jornalismo. “Percebi que medicina não era para mim e decidi seguir na comunicação. Hoje, estudo na UFMG”, conta.
A experiência de aprendizado no Ciee foi tão importante que Ana Beatriz ou a fazer estágio na própria instituição.
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