NA FRONTEIRA DAS GERAÇÕES

Geração Z é a que mais sonha em abrir negócio, mas não quer ficar no mesmo emprego

Pesquisa aponta que 43% dos trabalhadores que têm entre 16 e 30 anos gostariam de empreender

 

Abrir o próprio negócio é um sonho comum à maioria das pessoas, independentemente da geração. Mas na Z esse desejo é ainda maior: 43% dos que têm entre 16 e 30 anos gostariam de empreender, contra 35% da média geral da população. Os dados são da pesquisa “Perspectivas Intergeracionais no Mercado de Trabalho”, realizada pela DATATEMPO/FECOMÉRCIO MG, na região metropolitana de Belo Horizonte, em fevereiro de 2025.

Aos 26 anos, o jovem Guilherme Righi já conseguiu realizar esse sonho. Em novembro de 2024, ele abriu um restaurante, junto com a mulher, Yzabella Moreira, 26. Depois de dois anos de trabalho na Itália, o casal trouxe a experiência para o negócio especializado em massas. “Amo o que faço. É desgastante, é estressante, porque trabalhar com cozinha não é fácil, mas eu sou feliz assim, cozinhando, levando para as pessoas momentos especiais”, afirma o cozinheiro.

Com 37 anos, Dâmaris Roseane Silva Alves Furtado é da geração millennials (de 31 a 42 anos). Formada em farmácia, ela abriu mão da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) para empreender no ramo de semijoias. Ela conta que chegou a trabalhar na sua área por quase dez anos, exerceu cargos de gestão, até que aquilo parou de fazer sentido para ela. “Não era tanto a questão de cansaço físico, mas foi mais um desenvolvimento intelectual em respeito às coisas que eu estava fazendo que me fizeram parar”, conta. 

A partir daí, o empreendedorismo veio como consequência. “Na época que eu comecei, era uma coisa bem informal, queria só vender para as pessoas que estavam próximas de mim e ganhar um extra”, diz Dâmaris, que criou sua própria marca e, há seis anos, trabalha exclusivamente com semijoias. O novo trabalho tem mais a ver com o estilo de vida que ela escolheu. “Comecei a consolidar essa estrutura como algo que era aplicável para mim. Naquele momento, eu não queria o sistema de CLT, acordar todos os dias de manhã, viver aquelas oito horas no serviço, chegar em casa tarde, ficar semanas sem ver meus pais”, conta.

Entre os millennials, como Dâmaris, 31,3 % consideram que a CLT não é o melhor regime de trabalho, atrás somente da geração Z (43%). “A menor lealdade da geração Z a uma única empresa (36,4%), a menor permanência em uma mesma área de atuação (34,6%) e um alto otimismo em relação à progressão na carreira (86,9%) podem contribuir para a maior discordância desse grupo quanto a CLT ser o melhor regime de trabalho. Esses fatores sugerem que a estabilidade observada entre os jovens dessa geração está mais relacionada ao processo de inserção no mercado do que a um compromisso duradouro com empregadores ou áreas específicas”, explica o analista de pesquisa do instituto DATATEMPO/FECOMÉRCIO MG Aldrey Guerrero. 

Segundo o presidente do Sebrae-MG, Marcelo Souza e Silva, o desejo de empreender está se concretizando cada vez mais no Brasil. “Hoje cerca de 80% dos CNPJs registrados no país são microempreendedores individuais (MEIS). É um movimento exponencial”, afirma Souza e Silva, que também preside a Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH).

Mas trocar o emprego formal por um negócio próprio nem sempre significa trabalhar menos. “Quando a empresa começa a dar certo, crescer, a pessoa começa a pensar: ‘O que eu fui fazer? Não posso largar isso agora, eu tenho que crescer, mas para isso tenho que me dedicar mais’. Então, a pessoa fica mais seis horas, mais oito, mais 12 horas”, diz Marcelo Souza e Silva.

Virar dono também não significa ganhar mais. “No meu caso, não foi por dinheiro. Porque, se fosse, eu teria continuado onde eu estava. Quando eu comecei a vender semijoias, durante um bom tempo, não ganhei mais do que eu ganhava como CLT”, conta a empreendedora e dona da marca Dâm Semijoias.

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