O Festival Tapume é a concretização de um sonho antigo de Leonardo Beltrão, que viu a arte urbana crescer em Belo Horizonte a partir de 1990, com a realização da Bienal do Grafite e do Cura, mas faltava algo que tivesse o lambe-lambe – cartazes, pôsteres ou impressões em papel colados em espaços públicos – na centralidade da questão.

“Antes ele estava vindo na garupa do grafite, do muralismo e do estêncil”, salienta o idealizador do festival, que tem início hoje, reunindo 20 artistas de todo o Brasil, que farão uma grande ocupação no centro de BH, nos jardins internos do Palácio das Artes e nas grades externas do Parque Municipal.

“O lambe-lambe nunca saiu de moda, mas a gente traz uma força um pouco maior para ele neste momento, em que faz muito sentido agora a gente tirar um pouco das redes sociais e vir para o campo real de existência das artes, na pele a pele, no corpo a corpo”, comenta Beltrão.

Para o artista, o mais legal do lambe-lambe é o seu poder democrático. “É um e de fácil o, não exigindo nenhuma especialização tão grande. E talvez aí resida a coisa mais bonita dele, com o risco de ir para a rua, porque outros artistas veem e interagem com a sua obra, que é um ponto muito peculiar dos lambe-lambes”.

Essa interação ainda não é um ponto pacífico entre os artistas. “Muitos defendem o respeito às obras que já estão postas, mas a partir do momento que estão na rua, elas estão abertas a interações. É muito legal, porque nasce uma terceira coisa que ninguém esperava. Às vezes dá errado, mas na maioria das vezes fica um encontro inusitado, impactante para quem vê”, analisa Beltrão.

Belo Horizonte é uma das cidades mais abertas às artes urbanas, mas, de maneira geral, elas são vistas como poluição visual. “A política pública não dá conta de todas as manifestações da sociedade. É muito mais cômodo e confortável para quem está no poder simplesmente limpar tudo. A rua, por essência, é da sociedade”.

Um dos destaques do Festival Tapume é a criação da Casa de Lambes. Segundo Beltrão, é uma casa viva que foge à estética das exposições convencionais. As pessoas poderão ir, colar seus lambes, num mural coletivo, sentar no chão e se extasiar com um lugar pleno de lambes”, comenta.

Outra atração é a presença de Emerson Rocha, conhecido como Saturno. Algumas de suas obras serão projetadas durante o show de Gilberto Gil no Mineirão, no próximo sábado. “Ele tem uma identidade visual muito própria e forte, trabalhando com a linguagem dos negros e dos orixás”, elogia.

SERVIÇO
O que. Festival Tapume – Inauguração da Casa de Lambes e início da exposição
Quando. Sábado, das 16h às 22h
Onde. Espaço Mama/Cadela (Rua Pouso Alegre, 2.048, no Santa Tereza)
Quanto. entrada gratuita