As festas juninas vão muito além das danças e enfeites coloridos. Por trás do encanto da celebração, há um universo rico em descobertas que une tradição popular, conhecimento científico e fatos históricos curiosos — especialmente sobre sua origem e os alimentos típicos que dominam as quermesses. Entender como essa festividade surgiu, se transformou e chegou até nós é mergulhar em uma jornada repleta de significados. Por isso, a seguir, vale a pena explorar as curiosidades que cercam essa época tão especial. Confira!

Tradição que atravessa fronteiras

A Festa Junina chegou ao Brasil por influência dos portugueses e, ao longo do tempo, foi sendo adaptada ao contexto local, incorporando elementos das culturas indígena e africana. O resultado é a colorida e animada celebração que conhecemos hoje, com forte identidade nacional.

Segundo a Associação Brasileira de Promotores de Eventos (Abrape), só em 2023 o ciclo junino gerou mais de R$ 2 bilhões para a economia, com cidades como Caruaru (PE) e Campina Grande (PB) atraindo mais de 5 milhões de visitantes. Em 2024, os números foram ainda mais expressivos, reforçando a festa como um pilar do turismo e da cultura brasileira.

Apesar disso, as raízes da celebração vêm de tradições europeias. “Se a gente acha que festa junina é coisa só do Brasil, tá enganado! Na verdade, essa tradição tem origem nas festas pagãs da Europa, que celebravam o solstício de verão no hemisfério norte. Países como Portugal, Espanha e até alguns do norte da Europa também fazem festas parecidas, com fogueiras, danças e comidas típicas, sempre agradecendo pelas colheitas e pela fertilidade da terra”, explica Mário Marcondes, professor de Filosofia e História da Plataforma Professor Ferretto (programa online de educação).

A seguir, conheça as diferentes tradições de festas juninas pelo mundo:

Espanha

Na Espanha, a “Noche de San Juan” acontece em diversas regiões, como na Catalunha e em Alicante, com fogueiras, danças, comidas típicas e até concursos de fogos de artifício à beira-mar. Em San Pedro Manrique, homens caminham descalços sobre brasas carregando pessoas nas costas, em um ritual ancestral de fé e bravura.

Portugal

Em Portugal, berço da tradição que deu origem à festa brasileira, as comemorações de São João são especialmente marcantes no Porto, com fogueiras, balões, martelinhos de plástico e sardinhas assadas pelas ruas. Já na Itália, o dia de San Giovanni é celebrado em várias cidades com procissões, fogos de artifício e pratos típicos, como o vinho quente e bolos regionais.

Noruega, Dinamarca e Suécia

Na Noruega, Dinamarca e Suécia, o “Midsummer” ou “Solstício de Verão” também é festejado com danças em torno de fogueiras, coroas de flores e comidas tradicionais, destacando a conexão ancestral entre o ciclo agrícola, a colheita e os rituais que homenageiam a natureza e os deuses. Essas celebrações demonstram como diferentes culturas valorizam o mesmo momento do ano com símbolos e sabores únicos e, muitas vezes, com surpreendentes semelhanças.

Recipientes marrom com paçoca, amendoim e curau
A paçoca é uma aula prática de química, combinando texturas e sabores (Imagem: Odu Mazza | Shutterstock)

A ciência na mesa junina

A paçoca, além de deliciosa, é uma aula prática de química. Feita com amendoim, açúcar e farinha de mandioca ou milho, a mistura a por um processo de trituração que combina texturas e sabores. O amendoim, rico em óleos naturais, libera aroma e sabor quando triturado, resultado da liberação de compostos voláteis pela fricção e calor. A farinha, por sua vez, atua como agente de estrutura, dando liga à receita.

O curau, feito com milho, açúcar e leite, também tem sua base científica: o espessamento da mistura ocorre graças ao amido do milho, que gelatiniza ao ser aquecido, transformando o líquido em um creme aveludado. Esse mesmo princípio é usado na indústria alimentícia para produzir molhos e sobremesas cremosas.

Já o quentão, feito com cachaça, gengibre, especiarias e açúcar, é praticamente um laboratório ambulante. “Quando aquecemos o gengibre e a canela com a cachaça, liberamos óleos essenciais e compostos fenólicos que têm efeito termogênico. É literalmente uma bebida que aquece de dentro pra fora”, explica o professor Michel Arthraud, especialista em educação científica. Segundo ele, “esses elementos também têm propriedades anti-inflamatórias, o que mostra como tradições populares muitas vezes estão ligadas a saberes empíricos com base científica”.

Educação com sabor de cultura

Com tantas curiosidades por trás dos alimentos típicos, a festa junina também se revela uma excelente oportunidade para abordar ciência de forma ível e lúdica. “Mostrar que a química está na cozinha e que a física explica o porquê do milho estourar na pipoca, por exemplo, transforma a forma como o aluno se relaciona com o conhecimento”, destaca o professor Michel Arthraud.

Além de suas delícias, a festa junina também expressa a identidade brasileira. Ingredientes como milho, a mandioca, o coco e o amendoim refletem a biodiversidade do país e a influência das regiões Norte e Nordeste, onde essa tradição tem grande força e importância social.

Por Clinton Dantas