CINEMA

Ethan Hunt volta a ser 'deus' em último capítulo de 'Missão: Impossível'

Com estreia nesta quinta-feira, filme reverencia o valor da confiança e de tempos analógicos

Por Paulo Henrique Silva
Atualizado em 19 de maio de 2025 | 17:52

Uma das maiores franquias de espionagem do cinema, ao lado das aventuras de 007, "Missão: Impossível" chega ao seu capítulo final, após oito filmes em 29 anos, numa direção muito diferente das tramas com agentes secretos, pregando a confiança e a união entre as nações, acima de qualquer ideologia ou credo. Uma mudança e tanto para um sub-gênero que sempre viu o inimigo do outro lado da fronteira.

Como no filme anterior lançado em 2023, "Missão: Impossível - O Acerto Final" (com estreia nesta quinta-feira) mostra que hoje a briga não está propriamente entre as superpotências do planeta, mas num universo cada vez mais obscuro e fragmentado, presente de maneira preponderante em nosso dia-a-dia: a tecnologia digital.

Neste cenário amplificado pela Inteligência Artificial, vemos um mundo ainda mais dividido, com a verdade sendo facilmente manipulada. A Entidade retorna como o grande vilão do filme, um ser artificial que espelha o seu criador, catalisando todo o ódio com o objetivo de exterminar a raça humana. Apesar de imaterial, é um antagonista muito crível nos dias de hoje.

Se na produção de 2023 a impossibilidade de entender rapidamente as tramas e conspirações acaba levando o agente Ethan Hunt (Tom Cruise) a correr muitas vezes atrás do próprio rabo, vendo suas decisões acarretarem diversas perdas (especialmente humanas), a questão agora caminha para a necessidade de superar velhas rivalidades em prol do salvamento do planeta.

Desta vez, não há uma sensação de estar navegando em mares desconhecidos, após uma exposição mais humana do protagonista, que parecia sentir, no sétimo capítulo, o peso de várias ações com danos colaterais cair sobre os ombros. Hunt é novamente o super agente, que sabe o que precisa ser feito, o que não  quer dizer que não ocorrerão baixas - e talvez as mais sentidas de todas.

"O Acerto Final" deixa de lado o tom intimista para voltar a enveredar pela ação mais escapista, numa grande homenagem à própria franquia. Personagens e fatos retornam, estabelecendo um grande arco dramático desde o primeiro filme, lançado em 1996, dissipando estilos diferentes de direção (de Brian de Palma a J. J. Abrams) e temas de acordo com a época em que foram produzidos.

Essa ideia de "universo expandido", para pegar carona na filmografia dos filmes de super-heróis da Marvel, recoloca o agente da IMF (Força Missão Impossível) como uma espécie de divindade, em contraposição ao Anti-Deus, como a Entidade é definida. Hunt mostra o caminho e só pede, em troca, que confiem nele para que todos possam ser salvos.

O agente vivido por Tom Cruise é super-humano, escapulindo de situações extenuantes e "impossíveis", na água, na terra e no mar, mas precisa fortalecer essa "corrente" em cada nova dificuldade, desde a presidente dos Estados Unidos a um cientista isolado numa ilha, que, descobriremos, havia participado do primeiro "Missão: Impossível".

Não deixa de ser curioso que muitos desses "fiéis" são mulheres, negros e pessoas de outras etnias, que vivem personagens fundamentais para que Hunt possa conseguir ar de fase. Num mundo vigiado pela Entidade, é muito simbólico que, numa dos momentos em que buscam soluções sem tecnologia, está uma carta da presidente negra a uma comandante de porta-aviões.

Nesta carta, há apenas uma data, com dia, mês e ano, que evocará no receptor um sentimento de amizade e confiança, apresentado como uma "ordem" inquestionável. Assim, a trama sustenta antigos valores expressos em gestos simples e hoje sem muita importância, como um pedaço de papel. É como se a franquia ansiasse pela volta de tempos analógicos.