O mundo todo já sabe que precisamos trabalhar diferentes ações para reduzir a emissão de gases que provocam o aquecimento global - diminuir o uso de combustíveis fósseis, acabar com o desmatamento, incrementar as áreas verdes, etc. Mas e quando as mudanças climáticas já transformaram uma determinada localidade e há uma necessidade urgente de fazer alterações estruturais para lidar com o problema? Como desenvolver obras para que o rio, durante a cheia, não invada uma área urbana como a de Porto Alegre, por exemplo.
Isso é o que os ambientalistas chamam de adaptação e lutam agora para que esse investimento seja prioridade para os governos. Para eles, na agenda climática, ou da hora de se tratar tanto sobre mitigação do problema, para se falar com maior profundidade sobre adaptação. Essa pressão deve ser um dos principais pontos da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que acontece em novembro, em Belém do Pará.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Regional, o país já perdeu R$ 432 bilhões com desastres climáticos em 10 anos. Somente o caso das chuvas no Rio Grande do Sul em 2024, foram gastos R$ 50 bilhões. Por isso, é preciso priorizar a adaptação entre as obras a serem realizadas para evitar que esses prejuízos aconteçam.
Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, entidade centro que usa ideias e tecnologias para contribuir com a resposta à mudança do clima, explica que o Brasil investe em obras para um país que não existe mais, que já está sendo transformado pelas mudanças climáticas.
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Para ela, o Fundo do Clima, que hoje conta com cerca de R$ 20 bilhões, seja usado em projetos de adaptação. “No ano ado, pela primeira vez tivemos dois projetos aprovados no Fundo do Clima para adaptação, sendo que os dois somados são de R$ 82 milhões. Isso corresponde a 0,79% do fundo. Não é zero, mas estatisticamente é muito irrelevante”, relatou Natalie, durante um seminário sobre clima realizado para jornalistas pelo Instituto Clima e Sociedade (ICS). Os dois projetos citados são dos municípios de Campinas (SP) e Tangará da Serra (MT).
Dos R$ 30 bilhões previstos no orçamento de 2025 para a agenda climática, há apenas R$ 1,9 bilhão para gestão de riscos e desastres. Nada trata especificamente de adaptação, de acordo com Natalie. A especialista reclama que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) prevê investimentos de R$ 1,7 trilhão em obras até 2027, mas nenhum projeto trata de adaptação. O ideal seria que o país aumentasse o investimento em adaptação para R$ 100 bilhões até 2030.
Mas o investimento para adaptação a por um grande gargalo: profissionais especializados, que saibam enxergar os problemas a partir das mudanças climáticas e consigam prever quais são as obras estruturais necessárias para evitar desastres.
Para mudar essa realidade, segundo Natalie, é preciso criar estratégias de incentivo para a formação dessa mão de obra especializada. “Se o Fundo Clima ar a priorizar a adaptação, olha o giro que isso vai dar. Vai acontecer um movimento natural na economia mostrando quais cursos serão abertos, mostrar que as pessoas precisam se qualificar, quais são os projetos que vão nascer. Existe um status de poder de indução para dizer: ‘olha, isso a gente precisa resolver’. Foi assim com petróleo e com engenharia florestal, por exemplo”, explicou Natalie, lembrando que não só os municípios podem pensar em soluções de adaptação, mas também a sociedade civil e as empresas.