O dólar encerrou o pregão desta terça-feira (3) em forte queda e a Bolsa em alta, após falas do presidente Lula que sinalizaram a busca por uma solução para o ime do aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
A moeda americana caiu 0,64%, a R$ 5,636, na contramão do exterior, onde o dólar se valorizou. Ao fim da sessão, o índice DXY, que mede a força da divisa dos EUA frente a uma cesta de seis moedas, subia 0,59%, a 99,29. Já o sinal positivo prevaleceu na Bolsa paulistana, que fechou com um avanço de 0,55%, a 137.546 pontos.
Pela manhã, os movimentos do real tiveram como pano de fundo uma recuperação da divisa norte-americana no exterior, depois das perdas obtidas na véspera, quando fechou com queda de 0,81%, a R$ 5,673, na esteira de nova escalada nas disputas comerciais.
Na máxima da sessão, o dólar chegou a avançar 0,65%, às 10h, cotado a R$ 5,710, em meio a preocupações com a guerra tarifária iniciada pelos EUA.
Porém, a moeda desacelerou alta e ou a cair depois da coletiva de imprensa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em Brasília. Na mínima do dia, às 15h23, recuou 0,84%, sendo cotada a R$ 5,625.
Lula afirmou que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não teve problema em rediscutir o decreto que elevou alíquotas do IOF, acrescentando que uma nova proposta seria discutida durante a tarde em um almoço no Palácio da Alvorada.
O presidente disse ainda que "não deu tempo" para discutir a mudança no decreto que aumentou o IOF. "O [Fernando] Haddad, no afã de dar uma resposta à sociedade, elaborou uma proposta da Fazenda", disse. "Não acho que tenha sido erro não, foi momento político e em nenhum momento o companheiro Haddad teve qualquer problema de rediscutir o assunto. A apresentação do IOF foi o que pensaram naquele instante."
Após o almoço com Lula no Palácio da Alvorada e os presidentes da Câmara e do Senado, Haddad disse que medidas fiscais estruturais em discussão pelo governo não serão anunciadas antes de uma reunião com lideranças partidárias do Congresso Nacional.
Na perspectiva de Ian Lopes, economista da Valor Investimentos, as falas do presidente trouxeram tranquilidade. "O ponto mais relevante da entrevista foi que eles estão analisando cuidadosamente cada proposta e cada item do pacote fiscal, com o objetivo de trazer tranquilidade para a população brasileira", afirmou.
Para Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, o discurso de Lula trouxe poucas novidades, mas foi uma sinalização importante para os investidores locais. "O presidente parece bastante determinado a buscar uma alternativa para o IOF como solução para a crise atual. Mesmo quando questionado sobre medidas mais duras, ele não negou a possibilidade de negociar com as lideranças".
Spiess afirmou que a coletiva reduziu o ruído em torno dessas negociações, o que ajudou a melhorar o clima local. "Diante da possibilidade de apresentar, em curto prazo, alguma alternativa ao IOF, as apostas começam a mudar, com o mercado ando a apostar em um cenário mais positivo, ainda que seja apenas uma solução parcial e minimamente bem feita", afirmou.
Além da menção ao IOF, Diego Faust, sócio da Manchester Investimentos, destaca que a fala de Lula sobre a desincorporação dos salários da previdência em relação ao salário mínimo foi outro ponto que o mercado considerou favorável.
Isso porque, como está hoje, à medida que o salário mínimo aumenta, os salários dos aposentados e pensionistas, que são vinculados a ele, também sobem automaticamente, elevando os gastos com previdência. A desvinculação traria um alívio nas contas públicas. "Isso é algo que pesa muito, muito na dinâmica do nosso fiscal", disse Faust.
Desde 22 de maio, quando o Ministério da Fazenda anunciou elevações de várias alíquotas de IOF para cumprir a meta fiscal do ano, os ativos brasileiros vêm sendo pressionados, ainda que o governo tenha voltado atrás em algumas medidas. O Congresso, por sua vez, tem criticado as medidas relacionadas ao IOF.
Quem também voltou a se manifestar sobre o IOF foi o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo. Durante um evento do CDPP (Centro de Debate de Políticas Públicas) nesta segunda, após o fechamento do mercado, ele disse que sempre teve uma visão de que o IOF não deveria ser usado com objetivo arrecadatório, nem para apoio à política monetária. "Não é desejável que você tenha uma escolha de uma linha ou de um produto específico em função de uma arbitragem tributária", afirmou.
No radar dos investidores também estiveram os últimos dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sobre a produção industrial no Brasil, que cresceu 0,1% em abril, na comparação com o mês anterior, abaixo do esperado.
Segundo o IBGE, o recuo nessa base de comparação foi influenciado tanto pelo efeito-calendário, já que abril de 2025 teve dois dias úteis a menos, além das incertezas relacionadas às tarifas de Trump.
Na cena internacional, a política comercial dos EUA ocupou as atenções dos mercados, com investidores aguardando possíveis negociações entre os Estados Unidos e seus parceiros comerciais.
Nesta terça, a Casa Branca confirmou que o governo Trump enviou cartas a países dando o prazo até esta quarta-feira (4) para que apresentem suas propostas de acordo sobre as tarifas impostas aos seus produtos importados aos Estados Unidos.
Por outro lado, há um certo pessimismo entre os mercados diante de uma possível escalada nas tensões tarifárias. Isso porque a Casa Branca também informou que Trump ia um decreto ainda nesta terça-feira para oficializar sua promessa de dobrar as tarifas sobre importações estrangeiras de aço para 50%.
As tensões comerciais ainda foram fomentadas por um novo capítulo entre EUA e China. Na sexta, Trump acusou os chineses de violarem a trégua estabelecida no meio do mês.
Há duas semanas, as potências chegaram a um acordo em Genebra que reduzia temporariamente as tarifas retaliatórias, que haviam subido para até 145%.
A Casa Branca disse nesta terça que o governo americano está monitorando ativamente a conformidade da China com o acordo tarifário.
"Posso garantir que o governo está monitorando ativamente a conformidade da China com o acordo comercial de Genebra", disse a porta da voz do governo. "Nossos funcionários do governo continuam em contato com seus pares chineses."
O tarifaço anunciado no mês ado foi posto à prova na semana ada, depois que um tribunal comercial dos EUA decidiu que o presidente não tinha poderes legais para impor as taxas.
No entanto, um tribunal superior suspendeu a decisão na quinta, e a Casa Branca, em paralelo, busca recurso. A batalha judicial aumenta a incerteza em torno das negociações dos EUA com a China e outros parceiros comerciais importantes.