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Copom reajusta Selic e taxa de juros sobe a 12,25% no Brasil
Banco Central definiu por mais um aumento na taxa; o último ajuste havia sido feito em novembro, quando a Selic chegou a 11,25%

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) subiu a régua e decidiu reajustar, nesta quarta-feira (11), a Selic, a taxa básica de juros, em 1,0 ponto porcentual. Assim, o índice chegou a 12,25% na última reunião com Roberto Campos Neto à frente do BC. O aumento foi o terceiro seguido e ficou acima da previsão feita pelo mercado no boletim Focus, que apostava em uma alta de 0,75. O resultado coloca o Brasil com a segunda maior taxa de juros do mundo.
A última vez em que a Selic esteve neste patamar foi em dezembro de 2023. Desde setembro, com o ajuste anunciado nesta quarta, o Copom já elevou a Selic em 1,75 ponto porcentual. O aumento anunciado teve aprovação unânime dos nove integrantes do comitê. De acordo com o Banco Central, o ambiente externo permanece desafiador em função da conjuntura econômica nos Estados Unidos.
"O que suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed (Federal Reserve - espécie de Banco Central dos EUA). Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho", disse o comunicado.
Sobre a situação no Brasil, o Copom informou que o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho segue apresentando dinamismo. O comitê citou o crescimento do PIB no terceiro trimestre, mas demonstrou preocupação com a inflação, atualmente em 4,87%. "A inflação cheia e as medidas subjacentes têm se situado acima da meta para a inflação e apresentaram elevação nas divulgações mais recentes", destacou o BC.
Ainda conforme o comunicado, as expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus elevaram-se de forma relevante e se encontram em torno de 4,8% e 4,6%, respectivamente. "A projeção de inflação do Copom para o segundo trimestre de 2026, atual horizonte relevante de política monetária, situa-se em 4,0% no cenário de referência", complementou.
Por fim, o Banco Central falou do anúncio do pacote fiscal, feito pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O Copom justificou que a percepção dos agentes financeiros afetou preços de ativos e expectativas de inflação e taxa de câmbio. "Avaliou-se que tais impactos contribuem para uma dinâmica inflacionária mais adversa. O cenário mais recente é marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, elevação das projeções de inflação, dinamismo acima do esperado na atividade e maior abertura do hiato do produto, o que exige uma política monetária ainda mais contracionista", acrescenta a nota.
Mantendo o cenário atual, o Copom informou que a Selic pode ser ajustada, nas duas próximas reuniões, em até 2,0 pontos percentuais.
Reações
Após o anúncio, entidades do setor produtivo reagiram negativamente ao aumento. A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) afirmou que a decisão pode restringir investimentos, prejudicar a competitividade do setor, além de aprofundar efeitos negativos sobre o crescimento econômico, de emprego e renda.
“A Fiemg manifesta sua profunda preocupação com a decisão do Copom, ressaltando que juros excessivamente altos podem gerar mais danos à economia do que oferecer soluções eficazes. Defende, assim, cortes urgentes na Selic como medida essencial para estimular o setor produtivo e evitar um ciclo de estagnação econômica. Uma política monetária mais equilibrada é crucial para o fortalecimento da economia brasileira, o que exige uma atuação firme e estratégica do Banco Central”, disse.
A Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH) também criticou a postura contracionista do Banco Central e demonstrou preocupação com a manutenção do bom desempenho da economia. Conforme a entidade, há impactos diversos para o setor de comércio e serviço como restrição de crédito, redução do poder de compra dos consumidores, menor demanda por bens e serviços e custos operacionais mais altos para as empresas.
“Com juros altos, os consumidores tendem a reduzir gastos com itens não essenciais, o que pode levar a uma queda nas vendas no varejo e em serviços relacionados. Para as empresas, especialmente aquelas que dependem de financiamentos para expansão ou operações, o custo elevado do crédito pode limitar investimentos e aumentar os preços dos produtos e serviços para cobrir despesas adicionais, agravando a desaceleração da demanda “, analisou o presidente da CDL/BH, Marcelo de Souza e Silva.
Na perspectiva do dirigente, ainda que o aumento seja uma ação para conter o avanço da inflação de demanda e que o atual cenário econômico peça por uma política monetária contracionista, o bom desempenho que o país vem apresentando, como crescimento do PIB e queda do desemprego, não podem ser freados pela Selic e prejudicar resultados positivos já alcançados.
“Já tivemos avanços como o novo pacote fiscal, a aprovação da reforma tributária e o crescimento de importantes setores da economia, mas precisamos manter um ambiente de negócios saudável, com segurança jurídica e estabilidade, para possibilitar a atração de novos investimentos. O Brasil vem caminhando de forma positiva. No entanto, para termos um crescimento sustentável no longo prazo, temos que ter zelo nos gastos públicos, revisão de despesas e reforço no desenvolvimento social”, concluiu Souza e Silva.
A economista e professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Carla Beni reprovou a decisão do Copom. Ela lembrou que o ajuste realizado vai provocar uma despesa ao Tesouro Nacional de R$ 50 bilhões. O valor pode chegar, segundo ela, a R$ 150 bilhões, caso o Banco Central mantenha a previsão de promover mais dois ajustes no início de 2025.
“Não há corte de gastos que seja possível de se compensar com a elevação de um ponto percentual da taxa Selic. Infelizmente, a economia vai indo muito bem e a solução encontrada vai ser diminuir a atividade econômica, contrair o crédito e provocar desemprego”, analisou.
O head de conteúdo da Melver Alexandre Dellamura afirmou que a decisão do Copom demonstra uma postura mais prudente e pessimista. “A contar do problema fiscal e da impossibilidade de o governo seguir o descrito no arcabouço fiscal, cortes da Selic devem ser esperados apenas para 2026. O ritmo das contas públicas também não descarta a possibilidade de dominância fiscal para 2025. Na dominância, a elevação da Selic não teria mais efeitos práticos para segurar a inflação, ocasionando, pelo contrário, aumento do serviço da dívida pública e maiores efeitos inflacionários”, disse.
Tensão com o mercado
O aumento de juros ocorre em um dos momentos de maior tensão entre governo e mercado desde janeiro de 2023. Enquanto o PIB cresce acima das expectativas e o país registra bons indicadores econômicos, como aumento da massa salarial e taxas de desemprego e nível de pobreza nos valores mais baixos desde 2012, o dólar tem batido recordes consecutivos e críticas constantes são feitas à equipe econômica.
Na última reunião, em novembro, um dos argumentos para o crescimento da Selic foi a necessidade de o governo apresentar um pacote de corte de gastos. As medidas foram anunciadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em 28 de novembro e estão em debate no Congresso. O mercado não sinalizou positivamente às soluções apresentadas pelo governo e o dólar bateu recorde chegando a R$ 6,08.
O arcabouço de Haddad prevê uma economia de R$ 71,9 bilhões até 2026 e R$ 327 bilhões até 2030, com alterações na política de valorização do salário mínimo e em alguns programas sociais importantes para o governo.
Como parte das medidas, o governo federal também anunciou a isenção do Imposto de Renda (IR) para trabalhadores com salários de até R$ 5 mil. Para compensar a renúncia, estimada em R$ 50 bilhões por ano, o governo quer a taxação de lucros e dividendos superiores a R$ 50 mil por mês, hoje isentos no Brasil.
Mudança de comando
Esta foi a última reunião do comitê neste ano. No próximo encontro, em janeiro, o Banco Central terá à frente Gabriel Galípolo, economista que integrou o Ministério da Fazenda na gestão de Luiz Inácio da Silva (PT), e que foi indicado pelo presidente ao cargo.