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Africanos criam rede de apoio e resistência cultural em Belo Horizonte
A Afrodiáspora, comunidade criada por africanos na capital, promove encontros, acolhimento e difusão da cultura do continente
Embora a cultura africana tenha influenciado a língua, a culinária, a religião e os costumes do Brasil, a população brasileira ainda conhece pouco sobre a África. Essa é a percepção do guineense Ivan Santin, que vive há 12 anos em terras brasileiras. “Muitas pessoas aqui não sabem que o meu país é, de fato, um país. Muita gente ainda considera a África como um só lugar, e não um continente”, afirma.
Ele não está sozinho: essa visão é compartilhada por outros africanos que vivem em Belo Horizonte. Foi para desmistificar os estereótipos que muitos brasileiros ainda têm sobre a África, e também para se fortalecer como estrangeiros longe de casa, que surgiu a Afrodiáspora, uma comunidade africana formada na capital mineira. Por meio de eventos, palestras e encontros, o grupo se reúne periodicamente, especialmente no Dia da África, para mostrar a diversidade dos países do continente.
Mais do que um movimento, a Afrodiáspora é também uma associação. Além de apresentar uma outra perspectiva sobre o continente africano, a iniciativa busca fortalecer os laços entre africanos que vivem em BH. A inspiração veio da antiga Casa África, espaço cultural que funcionou na cidade entre 2007 e 2018, fundado por Ibrahima Gaye, à época um estudante senegalês vivendo no Brasil.
A Casa África também era um ponto de encontro entre africanos e brasileiros e um espaço de promoção da cultura africana. “Muita gente aqui tem uma visão distorcida da África. E é por isso que muitos de nós, quando chegam ao Brasil, se sentem motivados a mostrar a cultura dos seus países”, explica Joel Nsumbo, engenheiro civil e um dos fundadores da Afrodiáspora. Ele mora no Brasil há 16 anos e veio para estudar.
Com o fechamento da Casa África, muitos africanos que viviam na cidade perderam esse ponto de encontro que facilitava trocas com pessoas de outras nacionalidades. Sentindo falta daquele espaço de convivência, uma nova geração decidiu resgatar a união que o antigo espaço proporcionava. “Era um lugar onde a gente se sentia em casa”, conta o engenheiro de produção e DJ Henderson Rodrigues, de 34 anos. Assim como Joel e tantos outros africanos, ele veio de Angola em 2009 para estudar no Brasil.
Hoje, a Afrodiáspora segue o mesmo princípio da antiga Casa África: aproximar pessoas. A proposta é conectar brasileiros e africanos. Isso acontece principalmente por meio de eventos, que também servem como ponto de chegada para quem ainda não conhece a comunidade. “A festa é uma forma de estarmos juntos. Mesmo sendo de países diferentes, conseguimos trocar ideias, falar de planos, pensar o futuro e compartilhar nossa cultura”, destaca Henderson.
Daniel de Cerqueira / O TEMPO
Apoio
A Afrodiáspora é mais do que uma associação que organiza eventos. É uma rede de acolhimento formada por africanos que apoiam outros africanos. “Tem gente que está aqui há mais tempo e recebe quem acabou de chegar. E, quando não recebe, indica alguém. É algo que fazemos e vamos continuar fazendo. Porque quanto mais unidos estivermos, mais fortes seremos”, afirma Henderson.
Segundo o professor Duval Fernandes, do programa de Pós-graduação em Geografia da PUC Minas, Minas Gerais não é, historicamente, um dos principais polos de atração de migrantes africanos no Brasil. De acordo com dados do Observatório das Migrações, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, entre os anos de 2010 a março de 2025, o Brasil recebeu quase 70 mmil pedidos de registro de imigrantes africanos. Desses, cerca de 3.956 foram em Minas, sendo 1.504 em Belo Horizonte.
Ainda de acordo com o professor, a formação de comunidades por país ou região de origem não é comum no Estado, mas as que existem, fazem a diferença. “As manifestações culturais são fundamentais para manter a coesão entre os africanos e preservar suas raízes”, afirma.
Para Ivan, esse apoio é essencial. “É bom ter essa comunidade com quem a gente possa dividir não só momentos de lazer, mas também os mais difíceis. Chegamos em um país onde não temos nossa família. Precisamos nos apoiar, independentemente do país de onde viemos”, defende.
Evento homenageia mulheres africanas no AfroGalpão
Todos os anos, a Afrodiáspora, comunidade de africanos vivendo em Belo Horizonte, se reúne para celebrar o Dia da África. O evento tem como foco destacar a diversidade de povos e culturas do continente. Com o nome “Dia da África – Black Queens”, a edição de 2025 acontecerá no dia 31 de maio, no AfroGalpão. O tema homenageia a sabedoria das mulheres negras africanas.
Comemorado em 25 de maio, o Dia da África marca a libertação dos países africanos do domínio colonial. No Brasil, a data não é oficial, mas é lembrada por grupos e organizações que celebram as conexões entre o país e o continente africano.
Além de música e culinária típica de várias regiões da África, a programação deste ano inclui uma palestra com mulheres africanas que vão compartilhar suas vivências e trajetórias. “Nós que estamos representando a África no Brasil queremos mostrar outro lado do nosso continente. Os eventos ajudam a promover nossa cultura, nossas músicas, nossa alegria para o povo brasileiro”, conta Véronique Douzaka, 32, uma das palestrantes da noite. Natural de Camarões, ela vive no Brasil há 12 anos. Veio estudar e hoje é professora de francês, com uma abordagem afrocentrada.
O espaço escolhido também carrega significado. O AfroGalpão nasceu há um ano com o propósito de sediar eventos ligados à cultura afro-brasileira, e, desta vez, abre as portas para receber a Afrodiáspora. Segundo Mariana Nayra, produtora do espaço, receber o evento é reafirmar o compromisso com a própria identidade do lugar. “Quando assumimos o nome AfroGalpão, também assumimos a responsabilidade de ser um espaço de valorização, acolhimento e emancipação da nossa comunidade”, afirma.
Os ingressos para o "Dia da África – Black Queens" variam entre R$ 25 e R$ 35 e podem ser adquiridos online. Para mais informações, e @afrodiasporabh no Instagram.