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Meligeni sobre João Fonseca: talento é real, mas sucesso depende da mente — e da paciência dos fãs
Ex-tenista e comentarista de tênis entende que o brasileiro será um dos grandes, mas a torcida e ele precisam amadurecer
Fernando Meligeni acredita que João Fonseca será um dos grandes tenista da história do Brasil, mas fez ressalvas quanto a expectativa que o torcedor criou. Em entrevista ao podcast “Tomando uma Com”, ele fez uma análise contundente sobre o momento da principal promessa do tênis brasileiro, e a forma como o público — especialmente o brasileiro — lida com jovens talentos. A fala, carregada de experiência e franqueza, alerta para os perigos da empolgação precoce e reforça a necessidade de amadurecimento constante no circuito profissional.
Ao comparar Fonseca a outros jovens atletas que despertam empolgação precoce da torcida, Meligeni alerta: o brasileiro é eufórico, mas também é volátil. “Você acha que ele é um fenômeno? Em 30 segundos derrubam”, diz, lembrando que essa paixão instável muitas vezes se apoia mais no discurso do que nos resultados.
Para o ex-número 25 do mundo, a torcida brasileira tende a se conectar mais facilmente com atletas que “falam alto”, criam narrativas midiáticas e assumem posturas de protagonismo, mesmo que não correspondam a isso em títulos ou feitos concretos. “A grande maioria dos nossos ídolos, principalmente no futebol, foram caras que falavam, retrucavam — às vezes até bad boys”, observa.
João Fonseca, segundo Meligeni, está num dilema típico de grandes promessas: joga um tênis de elite, tem discurso humilde e foco claro — quer ser número 1 do mundo, mas sem arrogância. E é justamente aí que pode haver ruído com o público: “O brasileiro não está acostumado a isso. Ele espera que o moleque fale grosso, prometa, grite”.
João Fonseca: talento real
Apesar do tom crítico à reação do público, Meligeni não poupa elogios a Fonseca. Destaca que, aos 18 anos, o brasileiro já apresenta um nível técnico, físico e mental “desproporcional” para a idade — tanto que vem sendo elogiado não só por brasileiros, mas também por nomes como Novak Djokovic e Jannik Sinner. “O circuito não fala à toa”, reforça.
“Existe o cara que é bom mesmo. Ele apareceu, as pessoas tomaram um susto com o João. O público acha que ele é um fenômeno. E o circuito fala: “Como ganhamos dele?” A palavra de ordem hoje dentro de um vestiário é: “Como a gente ganha do moleque?”, analisa.
Mas é justamente esse reconhecimento que leva à maior cobrança. Segundo Meligeni, o circuito agora estuda maneiras de derrotar Fonseca. Ele cita especificamente Jack Drapper, que já teria mostrado ao circuito um caminho para vencer o brasileiro. Em Indian Wells, Fonseca foi derrotado para o britânico por um 2 a 0 acachapante, com direito a pneu no segundo set.
A dinâmica é clara: ao se destacar, um jovem como João vira alvo. A cada vulnerabilidade exposta, uma nova armadilha é montada.
Nesse contexto, o recado de Meligeni é direto: não basta ser bom. É preciso querer ser bom todos os dias. “Se ele ficar feliz com 50, 40, 30 [do ranking], ele vai ser 50, 40, 30. Se quiser ser top 5, vai ter que buscar isso todo dia”, afirma. Para Meligeni, o talento de João Fonseca é real, mas o sucesso duradouro dependerá da sua capacidade de evoluir, se adaptar e não se acomodar com o reconhecimento inicial.
Com a experiência de quem viveu o circuito e agora analisa de fora, Meligeni deixa claro: João Fonseca é um talento real, já assusta adversários no vestiário e tem todos os atributos para chegar ao topo. Mas isso só será possível se ele quiser ser bom todos os dias, e se conseguir atravessar a maré alta de expectativas — e críticas — que vêm com a fama precoce.