Grana alta

Sem limites para 'roubar' a cena, Arábia atrai estrelas, mas também críticas 3m5et

Com investimento milionário do governo nos quatro principais clubes do país, Arábia Saudita atrai estrelas como parte de plano ousado para até sediar uma Copa do Mundo k6m3g

Por Frederico Teixeira
Publicado em 30 de junho de 2023 | 06:00
 
 
Francês Benzema é uma das estrelas recém-contratadas para atuar no futebol da Arábia Saudita AFP

No futebol, um chavão diz que camisa pesa e tradição não se compra. Mas, com os seus 'petrodólares', a Arábia Saudita quer contrariar essa regra. E as contratações de nomes consagrados como os do português Cristiano Ronaldo e dos ses Benzema e Kante são apenas a ponta do iceberg, que tem outros interesses que vão muito além do aspecto meramente esportivo.

O audacioso objetivo é transformar a Liga Árabe, a médio prazo, em uma das dez melhores do mundo. E tudo feito de forma totalmente planejada.

No início deste mês, como parte do programa estratégico 'Saudi Vision 2030', o governo da Arábia Saudita promoveu, na prática, a estatização dos quatro maiores times do país: Al Ahli, Al Ittihad, Al Hilal e Al Nassr.

O Public Investment Fund (PIF), fundo soberano saudita, será dono de 75% do capital dessas quatro equipes, designando inclusive a maior parte da diretoria. O valor do investimento não é declarado de forma oficial, mas fala-se em até R$ 20 bilhões! 

Outros quatro clubes também terão algum tipo de intervenção estatal: Al Qadsia (sob gerência da Aramco, empresa de petróleo saudita), Al Diriayah (sob gestão da gerência de patrimônio histórico), Al Ula (com o governo da cidade) e Al Suqoor (sob gestão da Neon, cidade 'inteligente' em construção no país).

Outras intenções

O governo saudita afirma que os investimentos têm como objetivo aumentar as receitas comerciais da liga dos atuais US$ 120 milhões (cerca de R$ 573 milhões) para US$ 480 milhões (R$ 2,3 bilhões) anuais. Mas, por incrível que possa parecer, não é essa dinherama toda que move o governo saudita...

Todo esse investimento no futebol estaria sendo utilizado como uma ferramenta para mostrar força e expandir a influência do país. Neste sentido, entre os planos mais ambiciosos está a intenção de sediar uma Copa. Até mesmo porque a última foi realizada no Catar, 'adversário' regional dos sauditas. 

Sportswashing

Há estudiosos que entendem que o x da questão é ainda mais complexo. Para eles, a monarquia saudita estaria adotando a prática conhecida como Sportswashing, quando o esporte é utilizado para (na tradução literal) “lavar" a imagem de um regime ou país.

No caso específico dos árabes, principalmente no que diz respeito ao desrespeito aos Direitos Humanos.

"A Arábia Saudita tem como característica a dependência da política externa para garantia da estabilidade política doméstica. Asssim, é preciso que o país tenha uma boa imagem perante a comunidade internacional. Neste cenário, também considerando que tem outros países da região investindo em esportes (Emirados Árabes, Catar, Bahrein), você vê uma necessidade de a Arábia Saudita investir mais em esportes para melhorar o modo como os outros países a veem. E estamos falando do futebol, esporte mais popular do planeta, que tem força para cumprir esse objetivo", analisa Thais Kierukff, pesquisadora da PUC Minas, especialista em Relações Internacionais voltada para questões do Oriente Médio.

A pesquisadora ressalta que a tendência é que, com a presença de grandes estrelas no Campeonato Árabae, esse processo se consolide ainda mais. "E é por isso que ele vai sendo estruturado a longo prazo mesmo e no presente você tem esse grande investimento em esportes. Está sendo trabalhada a imagem da Arábia Saudita hoje, tendo em vista também o futuro", finaliza.