O bilionário Elon Musk voltou a atacar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). E ele subiu o tom em relação à série de postagens agressivas que começou no sábado (6). Na madrugada desta terça-feira (9), escreveu em sua rede X (antigo Twitter) que o magistrado brasileiro é um “ditador brutal” que tem na “coleira” o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Como Alexandre se tornou o ditador do Brasil? Ele tem Lula numa coleira”, publicou Musk. Ele também compartilhou publicação de políticos brasileiros, como o deputado federal Marcel Van Hattem (Novo-RS) que criticavam Moraes. Em resposta ao parlamentar gaúcho, Musk afirmou que foi Moraes “quem tirou Lula da cadeia” e que por isso “o presidente não toma ações contra ele”.
A postagem de Musk é inverídica. A decisão que tirou Lula da cadeia foi a que barrou a prisão em segunda instância. Moraes votou a favor da prisão e, portanto, contra os interesses de Lula. No domingo (7), por ordem de Moraes, o dono da X entrou para lista de investigados no inquérito que apura a existência de milícias digitais antidemocráticas e seu financiamento.
Em outra postagem, Musk compartilhou a mensagem de um usuário que exaltou o fato de o governo de Jair Bolsonaro ter “reconhecido as contribuições excepcionais de @elonmusk para o Brasil, considerando-o um verdadeiro e estimado amigo da nação”. Bolsonaro, seus filhos, políticos aliados e seguidores têm elogiado Musk pelos ataques ao ministro do Supremo.
Musk também falou na possível retirada de funcionários da X que atuam no Brasil. “Precisamos levar nossos funcionários no Brasil para um lugar seguro ou, de outra forma, retirá-los de posições de responsabilidade. Depois disso, faremos um completo vazamento de dados. Eles foram informados de que serão presos”, escreveu o bilionário.
Confira abaixo o o a o a escalada de Musk contra a Justiça brasileira e as consequências até o momento:
Elon Musk, que diz defender a democracia e a liberdade de expressão ao usar a X para atacar o Moraes e ameaçar não criar medidas judiciais, é um defensor do regime opressor chinês, onde a internet é controlada pelo governo e só plataformas locais podem ser adas pelos cidadãos e mesmo estrangeiros.
Sem poder lucrar com a X na China, Musk mantém negócios no país comunista por meio da Tesla, sua empresa de carros elétricos. Ela inclusive tem uma fábrica em Xangai, a capital econômica do país asiático.
Enquanto lidera uma cruzada contra o STF e Moraes no Brasil em nome de uma suposta liberdade, Musk se aliou ao governo ditatorial chinês na disputa por Taiwan. Mais de uma vez, na X e em entrevistas, ele sugeriu que Taiwan deveria ceder às pressões chinesas.
Dias antes, Musk havia defendido uma posição parecida em relação à Ucrânia. Na ocasião, ele disse que o governo ucraniano deveria ceder parte do território aos russo para por fim à guerra iniciada com uma invasão ordenada por Vladimir Putin, aliado da China que também não preza pela liberdade de expressão.
Para a China, Taiwan é uma província rebelde que segue fazendo parte de seu território, mesmo após décadas de independência istrativa e econômica. Taiwan tem uma Constituição própria. Sua posição é apoiada por grande parte dos países ocidentais, incluindo os Estados Unidos.
Em sua investida contra Moraes, Musk acusou o magistrado brasileiro de “censura”. Reclamou da suspensão de contas na sua rede X por ordens judiciais. Chegou a pedir a destituição do desafeto e falou que aceita correr o risco de perder dinheiro com possível banimento da plataforma do Brasil em nome da liberdade de expressão e da democracia, segundo ele, um valor inegociável.
Mas o mesmo Musk, que vive disputando a liderança de homem mais rico do planeta, já defendeu golpe contra presidente eleito democraticamente e suspendeu contas de jornalistas arbitrariamente.
Musk fez uma onda de suspensões no antigo Twitter em dezembro de 2022, dois meses após comprar a empresa, que teria o nome mudado para X. A lista de contas bloqueadas incluía funcionários de veículos norte-americanos como CNN, The New York Times e The Washington, principalmente profissionais que cobriam o cotidiano do bilionário e suas empresas.
O motivo para o banimento, segundo Elon Musk, seria a divulgação de informações privadas dele na rede social, prática conhecida como doxxing. No entanto, o endereço de Musk não foi compartilhado. Os jornalistas fizeram postagens sobre o Elon Jet, projeto de um estudante que usa informações públicas para informar a localização do jato privado do empresário.
Pouco antes da suspensão das contas dos jornalistas, o Twitter baniu a conta que fazia o monitoramento do jato de Elon Musk com base em informações públicas. A medida ocorreu graças a uma nova regra criada pelo dono da companhia. A nova diretriz também foi usada como motivo para derrubar a conta dos jornalistas
Musk restabeleceu as contas suspensas de jornalistas no Twitter após forte pressão de diversos setores da sociedade norte-americana, além de ameaças de sanção por parte da União Europeia.
Dois anos antes desse episódio, Musk disse, no Twitter, que ele e os EUA dariam golpe de Estado golpe em qualquer país, para atingir seus interesses econômicos.
Em publicação no X, em julho de 2020, o bilionário confessou que ajudou a derrubar um governo eleito, de Evo Morales, na Bolívia, para colocar no poder Jeanine Añez. Disse que fez isso para garantir o suprimento de lítio, material usado na bateria dos carros elétricos da Tesla, sua fábrica de automóveis.
“Vamos dar um golpe em quem quisermos! Lide com isso”, escreveu Musk em resposta a um seguidor, que havia feito um post dizendo que o governo norte-americano havia organizado um golpe para depor Evo Morales, para que a Tesla pudesse obter lítio do país sul-americano. Jeanine está presa e foi condenada a 10 anos de cadeia pelo golpe. Musk está cada vez mais rico.
O lítio é um metal encontrado em abundância em Uyuni, um deserto no sul da Bolívia. É a maior jazida do mundo desse material de alta eficiência energética. Juntos, Chile, Bolívia e Argentina concentram cerca de 75% das reservas mundiais de lítio. O Chile é o principal produtor mundial, mas é a Bolívia quem tem o potencial de se tornar o maior fornecedor global desse metal precioso – o deserto de Uyuni abriga 50% de todo o lítio existente no planeta.