Belo Horizonte - a capital do grau – enfrenta agora o desafio de manter o esporte aos espaços fechados e propícios para a prática da modalidade. O encontro de grupos de motociclistas para realizar manobras perigosas em via pública - os chamados “rolezinhos do grau” - é considerado infração de trânsito. Porém, alguns eventos desse perfil vieram à tona recentemente ao se tornarem casos de polícia e foram denunciados por moradores de BH pelas redes sociais. Para o vereador e autor do projeto de lei que deu destaque ao esporte na capital, Bim da Ambulância, as situações de tumultos nas ruas são isoladas e não envolvem praticantes da modalidade esportiva. “O problema é generalizar”, diz o parlamentar.
“Às vezes, a pessoa que está cometendo um crime leva o nome (de praticante de grau). Aí generalizou. Se pegar um padre, um pastor envolvido em tumulto, aí será que todo padre, todo pastor também faz? É generalizar demais a parte como um todo. Isso aí são casos isolados, e, muitas das vezes, as pessoas colocam o nome do grau pra poder tirar uma ondinha. Acaba que contagia uma certa porção ou fração da cidade que não quer entender a fundo o esporte. Já generalizam o grau e pronto", diz.
Quando Belo Horizonte se tornou a capital do grau, em lei publicada no dia 19 de agosto de 2022, a prefeitura cedeu um espaço de quase 58 mil metros quadrados para que o esporte pudesse ser realizado em segurança. A área fica na avenida Clóvis Salgado, no bairro Bandeirantes, na região da Pampulha. A prática do esporte em ambiente fechado é legítima, mas quando ocorre em via pública é tipificada como infração de trânsito gravíssima.
De acordo com o Bim da Ambulância, influenciadores do grau, que são formadores de opinião, propagam o "espaço do grau" na cidade como um local dedicado à realização das manobras sem cometer crime de trânsito ou colocar a vida de outras pessoas em risco. O parlamentar considera que exista uma conscientização em massa ocorrendo sobre a atividade. Porém, o político acredita que há uma cultura de, nas folgas de fim de ano, alguns motociclistas se encontrarem para fazerem manobras com motos em vias públicas. Mas, segundo ele, essas pessoas não são as mesmas que praticam o esporte.
"Fim de ano, todo Natal, é uma cultura de periferia arrancar a descarga das motocas e sair assombrando tudo, mandar grau e andar sem capacete. Isso é um ato de loucura. Cada ser humano tem uma forma de externar sua felicidade, sua adrenalina, seu êxtase. No Natal do ano que vem, vai ter os emocionados que vão fazer isso outra vez. Em qualquer que seja o segmento ou área existe o ponto fora da curva, existe aquele que não cumpre regras, que não exerce o princípio básico. Se fosse uma questão de conscientização, não tinha ninguém preso. Quem comete crime vai para trás das grades ou para de baixo da terra em um caixão", defende.
O presidente da Associação Mineira Dos Motociclistas De Esportes Stunt E Grau (Astung), Cristiano Júnior, diz que a associação não compactua com os "rolezinhos do grau". Ele dá aulas para interessados na manobra no espaço destinado à prática. "É feito o trabalho de conscientização dos participantes que, em local apropriado, o grau é esporte. Em vias públicas é crime de trânsito grave. A Astung não compactua com os rolezinhos de moto no Anel Rodoviário e ruas de bairros", afirmou. Segundo o presidente, na Arena do Grau, é proibido escapamento direto, cortar giro e "fazer borrachão", enquanto alguns equipamentos são obrigatórios, como o uso de capacete e tênis.
Episódios recentes de rolezinhos do grau 8n61
Recentemente, um casal morreu após ser perseguido pela polícia, que tentava inibir o ato no Anel Rodoviário, na capital mineira. No último fim de semana, na noite de Natal, um jovem de 22 anos, que fazia manobras de motocicleta foi baleado na cabeça na Vila Maria, no bairro Jardim Vitória, na região Nordeste de Belo Horizonte. O tiro acertou a vítima de raspão. O suspeito do crime não foi identificado. De acordo com a Polícia Militar, o homem acelerava e erguia o veículo na rua Júlio César de Oliveira, por volta das 23 horas, o que causava a emissão de ruídos altos de motor e estampidos do escapamento. O ato teria incomodado vizinhos da região, que teriam pedido ao jovem que cessasse a prática, mas ele ignorou a solicitação.
Em determinado momento, um outro indivíduo se aproximou à pé do motorista e atirou em direção à cabeça dele. O jovem caiu no chão e ficou deitado por alguns instantes. Em seguida, ainda de acordo com a corporação, levantou-se e foi para casa.
Também durante o fim de semana, circularam pelas redes sociais vídeos de policiais militares atirando bala de borracha contra motociclistas que trafegavam sem capacete e davam o "grau" pelas ruas da capital. Um deles foi cercado por uma viatura e jogado no chão durante a abordagem.
A situação tem incomodado alguns moradores de Belo Horizonte. "Estes irresponsáveis perturbam as pessoas com essas motocicletas barulhentas, trafegam sem capacete, empinam, e colocam em risco a vida de outras pessoas, mas quando a polícia entra em ação para promover a ordem, a população costuma ficar contra eles, dizendo que a ação foi truculenta", disse uma internauta no Instagram. "Aqui no Jardim Vitória está impossível. Todo final de semana às 5h da manhã eles se encontram para fazer essa farra e empinar a moto", repudiou outra.
No interior h2r2m
Não é apenas na capital que os “rolezinhos do grau” têm virado casos de polícia. Em Itajubá, no último fim de semana, a polícia apreendeu uma motocicleta que, assim como várias outras, realizavam manobras e "cortavam giro", que é acelerar a moto no até a quantidade máxima de rotações do motor.
A Polícia Militar de Itajubá recebeu denúncias sobre as características das motos e iniciou rastreamento com o objetivo de localizar os veículos envolvidos, deparando com uma das motos em um bairro da cidade. Quando o piloto percebeu que ia ser abordado, tentou fugir por vários bairros, mas foi abordado e apreendido. O veículo estava sem escapamento (o que gera um barulho maior) e sem placa, além do condutor ser um adolescente de 17 anos.
Pelas redes sociais, moradores reclamaram do Natal sem sossego. "A impotência que a gente fica quando eles am e a gente não pode fazer nada é muito grande. Meu filho autista acordou com o comboio de motos sem escapamento essa noite e não parou de chorar. O povo está perdendo o bom senso. Uma falta de respeito muito grande", disse um internauta. "Parabéns aos policiais, aqui no bairro Santo Antônio as motos não deram sossego nem um pouco durante a noite", publicou uma moradora.
A Polícia Militar foi procurada pela reportagem para comentar sobre os episódios recentes no Estado e também sobre as medidas adotadas para coibir os eventos, mas ainda não enviou o posicionamento. A Prefeitura de Belo Horizonte também foi procurada para falar sobre o desafio de fomentar o esporte e ao mesmo tempo inibir a prática de forma inadequada, mas respondeu que foram realizadas vistorias relativas a 15 reclamações de poluição sonora diurnas na plataforma "bhdigital", mas que não foi constatada a irregularidade no local. A reportagem será atualizada quando novas respostas forem enviadas.