MEDIDA PROVISÓRIA

Após MP, indústria teme aumento da conta de luz e quer rediscutir norma com Lula 732m6c

Texto apresentado pelo governo amplia a isenção da conta de luz para 60 milhões de pessoas de baixa renda 6f2y6z

Por Fábio Pupo / Folhapress
Publicado em 21 de maio de 2025 | 20:10
 
 
Lula assinou MP do setor elétrico após reunião com Davi Alcolumbre, Hugo Motta, ministros e parlamentares Foto: Ricardo Stuckert / PR

Após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) MP (medida provisória) que reforma o setor elétrico e amplia a isenção da conta de luz para 60 milhões de pessoas de baixa renda, grandes consumidores demonstraram preocupação com a perspectiva de que vão ficar com boa parte dos custos da iniciativa.

O governo buscou defender nesta quarta-feira (21) que não seriam as famílias de classe média, mas sim os grandes consumidores do chamado mercado livre (onde estão grandes comércios, como shopping centers e indústrias) os responsáveis por pagar a política voltada aos mais pobres.

Entre especialistas, o efeito exato para cada grupo ainda não está claro. Enquanto o impacto para a indústria é considerado certo, é mencionada a chance de uma consequência neutra para os consumidores residenciais não contemplados com a isenção - a depender do desenho final do pacote.

Hoje os subsídios setoriais na conta de luz são em grande parte bancados pelo chamado mercado regulado, onde estão as famílias, enquanto o mercado livre tem mais alívio. Com as mudanças, o governo busca tornar mais equânime a distribuição de custos.

Apesar de ainda não ter tido o ao texto final da MP, a Abrace (Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia e Consumidores Livres) afirma que as mudanças podem ser positivas para a baixa renda, mas por outro lado podem fazer o custo da indústria subir e levar a uma elevação de preços aplicados à própria população.

Paulo Pedrosa, presidente da Abrace, afirma que as indústrias instaladas no Nordeste podem ter no longo prazo um aumento de até 200% na chamada CDE (Conta de Desenvolvimento Energético), que abriga os subsídios. "O pequeno consumidor de energia é também o pequeno consumidor de cesta básica, de leite, de carne. É uma discussão para ampliar o benefício [da isenção] para se atender a essas pessoas, mas também não aumentar o preço das coisas", disse.

Para ele, a CDE precisaria funcionar com a lógica de uma alíquota tributária efetiva. Com isso, um percentual equivalente a 6% a 8%, por exemplo, seria aplicado aos consumidores em geral, sendo que, segundo ele, da maneira que está se propondo, a indústria ficaria com um percentual bem superior aos demais.

A Frente Nacional dos Consumidores de Energia disse considerar fundamental que as políticas públicas promovam maior o da população à energia elétrica, em especial para o público de baixa renda. "Contudo, até o momento, não estão claros todos os impactos que as medidas apresentadas pelo governo vão causar sobre todos os consumidores e sobre a economia", afirma, em nota.

"Questões cruciais da operação, da governança e da formação de preço não foram tratadas no texto. Para além de uma visão imediata, esperamos maior clareza sobre os efeitos de médio e longo prazo que a medida provisória pode trazer", diz a entidade.

O diretor-presidente da ABCE (Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica), Alexei Vivan, afirmou que há vários pontos positivos, como a redução de subsídios às fontes incentivadas (como eólicas e solares) - algo visto hoje como desnecessário.

"Porém, a MP merece reparos, ao usar os demais consumidores de energia para fazer política pública voltada à população de baixa renda. [A isenção] terá que ser paga pelos demais consumidores, incluindo a classe média", afirma.

"Ou seja, mais um subsídio, que impactará os preços da energia também no mercado livre, onde estão a indústria e o setor produtivo", diz. "Torçamos para que as distorções sejam corrigidas no Congresso Nacional".